Na preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, a seleção brasileira
masculina de polo aquático conseguiu algo quase impossível. A equipe foi
informada que foi aceita como convidada para disputar a Liga Adriática
da temporada 2015-2016.
O torneio, que mistura pontos corridos e mata-mata em sua
fórmula de disputa, é um dos interclubes mais badalados da Europa e
reúne times de países com tradição no esporte, como Croácia, Sérvia,
Montenegro e Eslovênia. Basicamente, é como se a seleção brasileira de
Dunga tivesse sido aceita como convidada para participar da Uefa
Champions League. Um treino de luxo para uma competição maior.
Para confirmar a participação, entretanto, falta uma verba de R$ 1,8 milhão.
O
montante serve para custear passagens aéreas, hospedagem, diárias,
alimentação, seguro saúde e deslocamentos entre cidades - e países -
para os jogos, além da taxa de participação. São seis meses de torneio,
de outubro de 2015 a março de 2016, com um recesso de duas semanas para o
Natal e o Ano Novo.
"Não posso garantir que vamos participar, mas
tem uma grande possibilidade. Fomos aceitos, queremos e vamos correr
atrás. O COB viu com bons olhos a participação", afirmou Ricardo Cabral,
coordenador técnico de polo aquático da CBDA (Confederação Brasileira
de Desportos Aquáticos), ao ESPN.com.br.
O
dirigente vê a participação no torneio como um projeto ousado e que
seria a grande cereja do bolo na preparação para a Olimpíada. Estima que
a seleção participaria de ao menos 50 jogos, entre partidas oficiais e
jogos-treino, fora a possibilidade de ter contato com seleções de ponta.
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Ratko Rudic, técnico da seleção brasileira, durante os Jogos Olímpicos de 2012
O
maior entrave é arranjar recursos sem atrapalhar ações já planejadas. A
equipe tem uma série de treinos internacionais marcados para 2016.
Porém, caso não consiga levantar o dinheiro, a solução será alocar
recursos de um projeto para o outro.
"Caso a gente não consiga
levantar o recurso todo, algumas ações que fariam parte do treinamento
em 2016, como treinos no exterior, eu não faria mais. Eu remanejaria
estes recursos. Precisamos do dinheiro o mais rápido possível. Existe
uma vontade muito grande de ir. O polo aquático é um esporte europeu. Os
países da Cortina de Ferro, mais Itália e Espanha, formam um clube
fechado. E a única maneira de entrar neste clube é estando lá com eles
", explicou Cabral.
Técnico croata usou contatos para garantir Brasil na Liga Adriática
A
confirmação na Liga Adriática fecharia um primeiro ano de ouro do
trabalho do técnico croata Ratko Rudic. Treinador mais vitorioso do
esporte e tetracampeão olímpico, - venceu os Jogos comandando a
Iugoslávia em 1984 e 1988, a Itália em 1992 e a Croácia em 2012 - ele
chegou no começo de 2014 para desenvolver a modalidade. Modificou o
sistema de treinos, com uma atenção especial à parte física, e levou a
equipe para realizar atividades no exterior.
Na parte de
planejamento, usou seus contatos e influência para garantir que o Brasil
tivesse seu pedido de participar da Liga Adriática aceito pelos
organizadores da competição. A missão parecia espinhosa: os Estados
Unidos tentaram por vários anos participar do torneio, mas nunca foram
aceitos. Rudic conseguiu.
O próprio treinador, aliás, foi atrás de
cidades croatas dispostas a hospedarem a equipe durante a liga. Duas,
com a estrutura mínima necessária para treinos, toparam. Uma delas é
Zadar, cidade do litoral localizada a 285km da capital Zagreb e bem
procurada por turistas.
"Rudic foi a melhor aquisição em termos de
desenvolvimento para o esporte. A gente começa entender como ele
conquistou medalha olímpica. Não sei se ele é muito chato porque ele é
bom, ou se ele é bom e por isso é muito chato. É bem detalhista, é quase
um regime militar com ele. O resultado aparece. Ele está gostando
daqui. Ele está virando brasileiro", concluiu Cabral.