sábado, 20 de abril de 2013

O beco sem saída dos esporte olímpicos do Flamengo

Quase dois meses depois de montar seu novo departamento de esportes olímpicos, o Flamengo enfrenta a repercussão da decisão de cortar as equipes profissionais de judô e ginástica olímpica, após já ter acabado, no princípio da nova gestão, com a de natação.
Apesar da indignação de atletas demitidos – como o ginasta Diego Hypolito, que foi à imprensa para acusar o novo presidente, Eduardo Bandeira de Mello, de retaliação à ex-presidente Patrícia Amorim –, a situação dos esportes olímpicos no clube é bastante delicada, e a decisão, coerente.
O Flamengo começou o ano com um déficit de R$ 14,5 milhões na área – que não inclui o remo, uma modalidade à parte no clube. A perda foi reduzida para R$ 7 milhões com os primeiros cortes e, agora, cai para R$ 5 milhões anuais com a extinção das equipes profissionais de judô e ginástica.
Conseguir dinheiro é o maior problema.
 
Em geral, o Flamengo tem três entradas de receita nos esportes olímpicos:
 
A primeira, mais forte atualmente e com pouco potencial de expansão, são as mensalidades pagas por sócios para que seus filhos pratiquem esportes nas dependências flamenguistas. Embora seja possível melhorar a infraestrutura e receber mais associados, o potencial de expansão não é dos maiores.
 
A segunda são as leis de incentivo ou convênios com o governo, com verba pública, muito pouco exploradas porque a equipe não tem as certidões negativas de débito, um documento que atesta que o clube está em dia com o pagamento de impostos. Sem as certidões, o Flamengo não pode oferecer incentivos fiscais a empresas para que patrocinem suas equipes.
 
A terceira, a iniciativa privada, é ainda menos aproveitada. Como esportes olímpicos têm pouca transmissão e audiência na televisão, é difícil convencer companhias a investir em judô, ginástica olímpica e natação, porque há pouquíssimo retorno. É um problema do Brasil, não só do Flamengo.
 
E a nova gestão ainda não teve tempo para convencer o mercado a abrir os cofres.
Este é o beco em que o clube carioca se meteu.
 
Das três fontes de receita, a prioridade flamenguista são as leis de incentivo. Internamente, dirigentes tratam as certidões como uma “carta de alforria”.
 
Os departamentos financeiro e de marketing trabalham na obtenção dos documentos com o governo, até porque o futebol também depende deles para fechar patrocínios com empresas estatais, mas ainda não teve sucesso.
Como resultado, equipes profissionais de esportes olímpicos tiveram de ser eliminadas para estancar os prejuízos. Ninguém gosta de ver medalhistas sem clube, obviamente, mas não parece haver nenhuma outra saída.
A bem da verdade, a nova gestão do Flamengo ainda é a menos culpada de toda esta história. Por um lado, os ex-presidentes mais recentes poderiam ter tido mais zelo com obrigações fiscais. Por outro, o governo poderia ter feito o que lhe cabe em outras questões.
 
Uma delas é o Conselho dos Clubes Formadores de Atletas Olímpicos (Confao). Trata-se de um fundo montado pela Confederação Brasileira de Clubes (CBC) que recebe 0,5% da verba de loterias a que o Ministério do Esporte tem direito.Atualmente, segundo dirigentes flamenguistas, a conta bancária tem cerca de R$ 72 milhões parados. Um dinheiro que será distribuído para clubes que compõem a iniciativa, entre eles o Flamengo, mas que não é repassado por falta de regulamentação. Em outras palavras, o governo precisa definir algumas regras sobre como o dinheiro será distribuído, mas ainda não o fez.
Verba acumulada em banco, a três anos dos Jogos Olímpicos no Brasil, com atletas de alto rendimento demitidos, certamente não faz nenhum sentido.

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