sexta-feira, 20 de julho de 2012

Falta de investimento prejudica formação de jogadores de polo aquático no DF

 Priscila Andrade se vê obrigada a treinar entre os homens por falta de alternativa

O Brasil não envia atletas de polo aquático a uma Olimpíada desde 1984. Neste ano, em Londres, a lacuna se repete: a Seleção ficou de fora por ter perdido no início das disputas classificatórias. A boa notícia é que, como o país será sede dos próximos Jogos, em 2016, já está com a vaga garantida. Mas os brasilienses dificilmente poderão torcer por um conterrâneo. No Distrito Federal, a maioria dos jogadores está acima da idade olímpica, e a renovação avança a passos lentos.

Prova disso está no nome de uma das principais equipes da cidade: Jurássicos. Formada há 15 anos, ela reúne apenas jogadores da categoria master, acima de 30 anos. A conquista mais recente foi o bronze, ganho no ano passado durante o Pan-Americano da modalidade, disputado no Rio de Janeiro. Alem de abrigar atletas veteranos, o time integra pessoas empenhadas em evitar que a modalidade caia no esquecimento.

O Distrito Federal tem aproximadamente 150 jogadores de polo. Estima-se que apenas 10% represente a categoria de base. A escassez de novatos decorre de um conhecido problema do meio esportivo amador: a falta de investimento. No polo aquático, no entanto, a situação parece ser ainda pior. "Nós temos poucos centros de treinamento, e os profissionais são mal pagos. Já houve muitos professores na cidade, mas a maioria abandonou porque foi tentar ganhar a vida de outra forma", lamenta Carlos Penna, diretor de esportes aquáticos do Minas Brasília Tênis Clube e membro do Jurássicos. Além da escolinha de Penna, apenas dois lugares oferecem a modalidade: o Iate Clube e o Defer.

Outro dado que explica o motivo de boa parte dos praticantes serem mais velhos está no momento de iniciação do grupo. Na década de 1980 e 1990, o polo aquático ainda constava nos Jogos Escolares e Universitários. Hoje, está fora. "Nós íamos de sala em sala juntando quem sabia nadar e formávamos um time. Foi quando o esporte se difundiu, teve um efeito fantástico", lembra Paulo Pita, instrutor da Secretaria de Esportes que também começou o polo por influência escolar. "Sem esse incentivo, está mais complicado. As crianças têm de jogar com adultos, fica um trabalho desigual", lamenta. Algumas das soluções encontradas para ao menos diminuir as diferenças foram a adoção de aulas exclusivas aos pequenos nos fins de semana e o uso de traves apropriadas.

Penúria barra competidores
O pouco investimento no polo aquático não ocorre somente na categoria de base. Com a terceira colocação no campeonato, o time candango conseguiu classificar-se para o Mundial Master. No entanto, como não captou recursos por patrocínio externo ou por meio do programa Compete, da Secretaria de Esportes, ficou sem condições de viajar até Riccione, na Itália.

Treinos animados
A falta de novos integrantes no polo aquático não desanima os praticantes mais antigos. Durante um treino rotineiro, o clima se iguala ao de uma competição: gritos, reclamações com o juiz e animada comemoração após os gols são constantes. As atividades reúnem pessoas de diversas idades e até jogadores de equipes adversárias.

Nos treinamentos do Minas, por exemplo, a professora universitária Priscila Andrade, de 34 anos, está acostumada a se destacar como a única representante feminina. "Larguei o balé para treinar polo há 7 anos. Queria algo outdoor, coletivo e divertido. Encontrei tudo aqui. Até temos um time feminino, mas fica bastante disperso", diz a jogadora. Na falta de companheiras, o jeito é treinar entre os homens. "Venho de biquíni mesmo, sem constrangimentos. Há alguns que preferem jogar entre eles, tratam igual o futebol. Mas a maioria, além de me receber bem, ensina e dá conselhos."

Também acostumado a dividir as piscinas com um público diverso, Luis Cláudio Garcia elege essa possibilidade de múltipla interação como o principal benefício da modalidade. "Somos uma família. Estamos sempre unidos, brincando um com o outro. Isso faz com que os que começam a treinar não larguem mais", comenta o empresário de 46 anos, jogando nas piscinas há 30. "Só fico triste de não poder trazer minha filha. Falta incentivo para que os jovens venham conhecer", lamenta.

Das piscinas para a cachoeira
Brasília não se destaca como referência no polo aquático, mas um lugar a aproximadamente 200km da capital da República atrai centenas de atletas da modalidade todos os anos. A Cachoeira de São Bento, localizada na Chapada dos Veadeiros (GO), tradicionalmente recebe equipes de todo o país no Campeonato Brasileiro em Águas Correntes. Neste ano, a disputa está agendada para 7 de setembro.

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