sábado, 1 de outubro de 2011

Naturalizado espanhol, destaque brasileiro do pólo questiona investimentos no esporte

Nascido em uma família tradicional no pólo aquático, Kiko Perrone até tentou se dedicar a esse esporte no Brasil, mas depois de oito anos sem ver evolução efetiva no investimento dado às equipes brasileiras, ele desistiu. Não do pólo, mas de vestir a camisa verde-amarela representando seu país natal internacionalmente. Em 2002, Kiko, um dos maiores destaques do pólo brasileiro, decidiu aceitar o convite dos espanhóis e vestir as cores de outra seleção nas principais competições mundiais.

Filho de Ricardo Perrone, ex-atleta do pólo aquático, tanto Kiko quanto seu irmão, Felipe Perrone, construíram suas carreiras nesse esporte jogando no exterior e, perdendo as esperanças no Brasil, os dois se naturalizaram espanhóis e acabaram conquistando títulos pela Espanha que sequer teriam disputado se continuassem na seleção brasileira. Nove anos depois da decisão de mudar de nacionalidade, Kiko não está arrependido de sua escolha e, voltando ao Brasil para jogar pelo Fluminense, encontra uma realidade pouco diferente daquela que deixou quase uma década atrás.

“Eu joguei oito anos pela seleção brasileira e aceitei o convite de jogar pela Espanha porque nesses oito anos eu vi poucas chances do time melhorar e, quando o time chegava em um nível legal, dois ou três jogadores paravam porque tinham que trabalhar. Aí eu percebi que nunca passaria daquele nível”, explicou Kiko, em entrevista ao ESPN.com.br.

Naturalizado espanhol, Kiko questionou investimentos no esporte

Naturalizado espanhol, Kiko Perrone questionou investimentos no esporte
Crédito da imagem: Divulgação

“A Espanha tinha um time de alto nível e foi legal porque ganhei medalhas, fomos campeões mundiais, campeões da Liga Mundial, consegui títulos que dificilmente eu conseguiria pela seleção brasileira. Seria muito mais legal conquistar tudo isso pelo Brasil, claro, mas como essa opção não existia, eu não chego a me sentir mal por isso”, admitiu o jogador.

Depois de dez anos atuando pelo Barcelona, na Espanha, Kiko Perrone resolveu retornar à sua terra natal após receber um convite de seu antigo clube, o Fluminense. De volta à realidade brasileira do pólo aquático, ele se sente pouco otimista quanto ao futuro desse esporte no Brasil e aproveita para questionar os investimentos que estão sendo feitos nessa área.

“É preciso construir as bases para depois de 2016 o esporte continuar crescendo. Mas as bases não estão sendo construídas, por isso eu não estou nem um pouco otimista”, confessou.

“Precisa saber quais os objetivos da Confederação, porque está entrando muito dinheiro público pela lei de incentivo ao esporte e acho que a imprensa tem esse papel de cobrar se esse investimento está sendo aplicado da maneira correta”, questionou o atleta.

Kiko mencionou ainda que a tentativa da criação de uma Liga Nacional de pólo pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) ainda tem sido muito pouco. Nos moldes em que está sendo organizado atualmente, os clubes fazem apenas seis ou sete jogos por ano e, desse jeito, conseguir uma evolução no esporte é praticamente impossível.

“Ainda não conseguimos formar uma Liga. A gente jogou pela Confederação Brasileira por um final de semana só, uma semana de jogos até agora e nós estamos em setembro. Eles deviam investir nos clubes, mas por outro lado também tem poucos clubes estruturados para promover treinamentos de alto nível. É complicado”.

A solução para todo esse problema estrutural no pólo aquático brasileiro poderia ser profissionalizar o esporte. No entanto, Kiko reconhece que isso é inviável em um país com tão pouca tradição no pólo e sugere que o Brasil copie os modelos de parcerias com faculdades, que já são usados na Europa e nos Estados Unidos.

“Acho que o fato de não ter dedicação em tempo integral não é motivo (para o esporte não evoluir). Se o atleta estiver ganhando dinheiro para estudar, por exemplo, já é um ótimo incentivo. É o que eles fazem na Austrália, nos Estados Unidos, na Europa”, contou.

Para finalizar, Kiko Perrone insistiu na importância de se cobrar que os investimentos feitos no esporte sejam bem aplicados e realmente gerem benefícios para a sociedade como um todo. “Dinheiro para o esporte é sempre bem dado, mas vamos tentar cobrar um pouco já que a sociedade está passando esse dinheiro para as confederações para ver o que esse dinheiro está gerando para o esporte”.

postagem retirada do site: www.espn.com.br - por Renata Mendonça - 08/09/2011 - às 14;53 horas.

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