Gringos trocam férias por torneio de 5 dias e turismo no Brasil

Os clubes paulistanos Paineiras (azul) e Hebraica (amarelo) disputam jogo da Taça Brasil na quinta-feira

Um grupo de estrangeiros de dez nacionalidades desfruta nestes dias das piscinas aquecidas de São Paulo a convite de clubes do país.

São 14 jogadores e três jogadoras de polo aquático das principais potências mundiais que tiveram passagens, hospedagem, alimentação e outras mordomias, como carro à disposição, bancados por clubes que disputam os cinco dias de Taça Brasil.

O campeão olímpico Dani Ballart foi convidado a jogar no Brasil pelo companheiro de seleção espanhola Daniel Cercols

A competição acaba neste domingo, no Paineiras do Morumby, e é a segunda em importância no calendário, atrás da Liga Nacional, que dura três meses.

Por outro lado, é a que atrai os melhores atletas devido à invasão gringa, que neste ano bateu recorde de participantes, inclusive com um campeão olímpico, o espanhol Dani Ballart, 39.

"Venho para ajudar os jovens. Já ganhei muito. Aqui, é de coração", diz o atleta, que se aposentou da seleção espanhola em 2005 e defende a Hebraica nestes dias.

Propositalmente, a Taça Brasil passou a ser organizada no mês de junho para coincidir com o primeiro mês de férias das ligas europeias.

O espanhol Daniel Cercols joga pelo segundo ano consecutivo a Taça Brasil pelo Paineiras do Morumby

Assim, jogadores dos principais centros vêm ao Brasil sem receber salário, mas com custos bancados pelo clube.

"Nosso campeonato é de setembro a maio. Então, posso vir ao Brasil em junho. Neste ano, consegui até um torneio para jogar nos EUA, em julho. São como férias gratuitas. Depois, em agosto, eu descanso três semanas", explica o espanhol Daniel Cercols, 34, que desde o ano passado joga pelo Paineiras.

Ex-jogador da seleção da Espanha, o atleta profissional do Navarra passou praticamente todo este mês em São Paulo. Em contrapartida, jogou, treinou e deu clínica para crianças no Paineiras.

"Eles estão de férias. É uma forma de conhecerem o Brasil sem gastar e ainda fazer o que gostam", diz o diretor do Paineiras, Alejandro Pesoa. "Ganhamos com esse intercâmbio", completa o dirigente, que gastou cerca de R$ 10.000 para ter Cercols e o croata Angelo Setka no time.

O regulamento da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) permite apenas a inscrição de dois estrangeiros por equipe. Se não, haveria mais na Taça Brasil. Dirigentes e atletas dizem que há lista de espera entre os amigos europeus.

"Estão em plena atividade, mas não querem mais o ritmo de treino das seleções", diz o supervisor de polo aquático da CBDA, Ricardo Cabral.

Nesta época, as principais seleções estão treinando para grandes competições, como o Mundial, na China, a partir de 17 de julho. Já o Brasil, classificado, não sabe quando começa o trabalho.

OUTRO LADO

O técnico da seleção brasileira, o croata Goran Sablic, é voz dissonante quanto aos benefícios que a vinda de estrangeiros para a Taça Brasil traz ao país.

"O polo aquático do Brasil não tem grande ganho. Eles vêm fazer turismo", afirma o croata que também supervisiona a base do esporte há cerca de um ano.

Os jogadores admitem o turismo. Mesmo assim, são os destaques de seus times.

Para Sablic, o país poderia atrair estrangeiros de alto nível por mais tempo.

"O Brasil tem talentos, tem dinheiro, mas falta uma Liga Nacional maior. A Taça Brasil tem apenas alguns jogos. O que se pode aprender em uma semana? Nada."

Matéria postada no www.folha.com, nesta data, às 08:11 horas