quarta-feira, 3 de abril de 2013

Pergunte ao Cabral?

Aliança entre Coaracy e Nuzman racha antes da piscina

  • Presidente da CBDA adia saída do Júlio de Lamare e ataca velho parceiro
  • COB não respondeu aos ataques
O secretário estadual de Esporte e Lazer e presidente da Suderj, André Lazaroni, e o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes Foto: Divulgação / Agência O Globo
O secretário estadual de Esporte e Lazer e presidente da Suderj, André Lazaroni, e o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy NunesDivulgação / Agência O Globo

RIO - Manhã da última quarta-feira, dia 27 de março. Em sua sala, no Parque Aquático Júlio de Lamare, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, recebeu um e-mail da cúpula da Suderj, informando que ele tinha até 1º de abril — prazo de quatro dias, em meio ao feriado da Páscoa — para deixar a instalação, a ser demolida. Surpreendido pela repentina ordem de despejo, Coaracy, então, decidiu apelar a seu maior aliado político, a quem ajudou a se sustentar no poder por seguidos mandatos, desde 1995.
 
Do outro lado da linha, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, desta vez não lhe estendeu a mão. Na terça-feira, horas depois de negociar com o novo secretário estadual de Esporte e Lazer, André Lazaroni, a prorrogação da saída da CBDA do Júlio de Lamare para 10 de maio, Coaracy não poupou críticas à postura de Nuzman. Mesmo entre velhos caciques do esporte, o amor só é eterno enquanto dura.
 
— Liguei para o Nuzman e ele me disse: “Coaracy, você falou mal do governador e agora estou impossibilitado de pedir algo por você”. Bati o telefone na cara dele. O que eu falei foi a verdade, que a demolição do Júlio de Lamare é um absurdo. Ele (Nuzman) alegou que a rua era de mão dupla, que não podia mais fazer nada por mim. Não peço mais porra nenhuma para ele! — disparou Coaracy, que, pelo acordo com o secretário, revogou a liminar contra a Suderj, obtida na manhã anterior, pedindo mais tempo para fazer a mudança da sede da CBDA.
 
Coaracy lembrou que, em entrevista ao GLOBO, no dia 20 de fevereiro, Nuzman admitira ter apoiado a demolição de instalações como o Júlio de Lamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Velódromo da Barra da Tijuca.
— Fiquei muito sentido com o Nuzman. Nunca faltei a ele. E agora ele pisou feio para cacete na bola — criticou. — Estou sendo forçado a sair do Júlio de Lamare. E o próprio Nuzman deu entrevista dizendo que era a favor de derrubar tudo. Ele que falou asneira. Sou presidente da CBDA. Se eu não puder dizer que a destruição do Júlio de Lamare é um absurdo, então eu sou um merda, não valho nada.
Através de sua assessoria de imprensa, o COB afirmou que Nuzman não comentaria as declarações de Coaracy, às “quais teve conhecimento através da imprensa”.
 
Cabrito calado
 
Nos últimos meses, enquanto o atletismo fazia seguidos protestos contra a demolição do Célio de Barros; alunos, pais e professores se mobilizavam para manter de pé a Escola Municipal Friedenreich; e comunidades indígenas resistiam à desocupação do antigo Museu do Índio; Coaracy adotava a estratégia da discrição. Em vez de engrossar o coro de vozes insatisfeitas com o pacote de obras do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, preferia olhar apenas para o próprio umbigo, achando que em silêncio talvez a derrubada do Júlio de Lamare saísse dos planos. Agora, a CBDA terá de se mudar com 40 funcionários para um conjunto de salas compradas há sete anos pela entidade e que estavam vazias, na Avenida Presidente Vargas. Longe de qualquer piscina:
— O bom cabrito não berra. Fiquei na minha porque achava que não iam ter peito de demolir o Júlio de Lamare.
Tiro na água.

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