terça-feira, 5 de junho de 2012

Atletas sobre incentivos ao Polo Aquático: Falta Vontade

Rudá e Grummy falam sobre o polo aquático e a gestão do esporte brasileiro em geral

Craque do Futuro
Publicada em 04/06/2012 às 07:00 - ssiste: www.lancenet.com.br
São Paulo (SP)

 Um esporte coletivo cujo principal objetivo é fazer gols. A frase descreve perfeitamente o futebol, mas também define o polo aquático. Rudá Franco e Gustavo “Grummy” Guimarães, atletas do Sesi e da Seleção Brasileira de polo aquático, receberam a reportagem do LANCENET! e falaram sobre o cenário da modalidade no Brasil.
Criado no final do século XIX (por volta de 1870) em Londres, o esporte passou a fazer parte das Olimpíadas a partir de 1900. No Brasil, a modalidade nunca teve grande destaque. O maior nome ligado ao esporte, João Havelange, é conhecido por sua atuação na gestão do futebol brasileiro.
A Seleção Brasileira de Polo Aquático jamais conseguiu uma medalha olímpica, apesar de já ter conquistado 12 medalhas pan-americanas desde 1951. A próxima chance dos selecionados do polo aquático será em 2016, 32 anos depois da última participação masculina nos Jogos Olímpicos nesse esporte. Atualmente, a Seleção Brasileira disputa a Liga Mundial.
O amadorismo é uma das principais características do polo aquático no Brasil. Nesse aspecto, o Sesi-SP destacou-se profissionalizando a prática dessa modalidade. Além disso, a instituição vem difundindo esse esporte pelo interior de São Paulo através de escolinhas para as categorias de base, algo ressaltado por Rudá e Grummy.
Confira a entrevista exclusiva do LANCENET! com Rudá e Grummy.
LANCENET!: Quando vocês decidiram jogar polo aquático?
Grummy: Vem um pouco de família. Tentei outros esportes, fui experimentando, só que eu tenho uma família que, desde o meu avô, praticou polo aquático (João Gonçalves Filho foi jogador de polo aquático e participou de sete Olimpíadas). Então eu entrei com sete anos, fui pegando gosto e até hoje pratico o polo aquático.
Rudá: É quase a mesma história. Meu pai jogava polo aquático também, meu irmão mais velho começou a jogar e eu segui os passos de meus familiares e comecei a jogar polo aquático também.

L!: Quais foram os principais desafios que vocês enfrentaram no início da carreira?
G: No começo era mais um lazer. Depois você começa a levar mais a sério, querer jogar em alto nível. Eu enfrentei um desafio que foi morar na Espanha, jogar pelo Barceloneta (Club Natacion Atletic Barceloneta), o que foi difícil. Aí eu abracei a ideia do Sesi-SP de ajudar a profissionalizar o esporte. Aqui é o único clube profissional do Brasil. Cheguei a ir para o Pan de Guadalajara, que foi o campeonato mais importante que eu participei.
R: O polo aquático é um esporte amador no Brasil. Nós temos vários problemas em termos de estrutura, de confederação, campeonatos e jogos. Nós dois tivemos a experiência de jogar no exterior. Joguei dois anos na Espanha e lá o campeonato é organizado, você joga oito meses e aqui nós sempre sofremos com o amadorismo. Agora com o Sesi, que está profissionalizando o esporte, sendo o primeiro clube do Brasil a profissionalizar o polo aquático, esse negócio já está mudando, a confederação já tem uma liga nacional mais extensa e já está muito melhor para jogar no Brasil.

L!: Quais as características essenciais que um atacante deve ter no polo aquático?
R: O atacante tem de ser rápido. O polo aquático é um esporte que, pelo tempo de ataque, você deve ter um raciocínio muito rápido, a noção do que está acontecendo e do que pode acontecer. O atacante deve ser um cara rápido, que olha para o gol o tempo todo, tem de ter faro de gol mesmo e, como é um esporte coletivo, tem de tentar ajudar todo mundo.

L!: E você Grummy, quais são as características essenciais de um utilitário?
G: O utilitário pode jogar como um atacante, como o Rudá falou, de fazer mais gols, ir mais pra cima, ou posso armar mais o jogo, fazer uma função de defender o centro, já que a maioria dos times joga em função desse centro.

L!: Quais foram os aprendizados que a eliminação do Pré-Olímpico trouxe para vocês?
G: Do Pré-Olímpico fica uma lição: a grande experiência que nós adquirimos lá. Jogamos contra grandes equipes, grandes jogadores, então o ponto positivo de não termos nos classificado, se é que existe um ponto positivo, foi a experiência que adquirimos.
R: Que sirva de lição, né? Temos uma Olimpíada em casa, então nós já estamos classificados. Se a gente continuar no mesmo esquema de treinamento, o negócio vai ficar complicado, mesmo porque em casa não dá para fazer feio. Temos de treinar bastante, para estar no nível dos europeus. Precisamos jogar lá fora, fazer jogos internacionais, para chegar ao nível deles mesmo.

L!: Já existe algum planejamento para esses jogos?
R: Já. De dois anos pra cá, nós já fizemos muitas viagens para a Croácia, fizemos mais viagens de treinamento e jogamos muito mais campeonatos do que jogávamos antigamente. A Seleção é renovada, então temos que passar nossa experiência. Treinamos bem forte para o Pan-americano, cerca de oito horas por dia. Treinamos juntos por um mês, fomos para a Croácia, tivemos muita experiência internacional antes do Pan. Foi muito bom para ir a essa competição. Mas esse trabalho deve ser contínuo, não pode parar.

L!: Rudá, como estudante de administração, como você avalia a gestão do esporte brasileiro em geral?
R: Em geral, com as Olimpíadas aqui no Rio de Janeiro, eles vão dar ênfase a vários esportes. Mas o Brasil sofre com o futebol. Não tem como bater de frente com ele. Hoje em dia, a Liga de Vôlei está muito boa, assim como a Liga de Basquete que consegue atrair estrangeiros, dinheiro e patrocínio. Isso faz com que o esporte evolua, né? Mas para alguns esportes, como o polo aquático e para alguns outros esportes amadores, ainda é muito difícil. Nós esperamos que, depois de Londres e do ciclo olímpico brasileiro, venham mais patrocinadores e a própria administração da confederação seja voltada a evolução do atleta para que consigamos um bom resultado no Rio.

L!: Quais são os patrocinadores do polo aquático?
R: Aqui no Sesi-SP nós não temos (patrocinadores), mas a confederação tem os Correios, o Bradesco, a Sadia, Lei de Incentivo ao Esporte e a Speedo, que dá o material esportivo.

L!: Quais fatores vocês acham que faltam para que o polo aquático se torne um esporte popular no Brasil?
R: O Sesi-SP é uma chave para massificar o esporte. O Sesi Ribeirão (Preto), Sesi Franca e Sesi São Carlos têm escolinhas de polo aquático. Isso é muito importante. Falta um pouco a confederação tentar massificar o esporte, pois há clubes do Nordeste que estão tentando entrar para o eixo Rio-São Paulo, para conseguir jogar conosco, mas ainda falta um pouco de intercâmbio. Faltam profissionais para trabalhar na área. Aqui em São Paulo tem falta de treinadores, por exemplo. Vivemos em um país tropical e esse é um esporte dentro da água, que tem gol, é emocionante, então para massificar falta vontade de todos.

L!: Vocês já acompanharam esse trabalho de perto?
R: Já. Geralmente, nossas pré-temporadas no Sesi são em unidades no interior. Já fizemos pré-temporadas em Jundiaí, em Ribeirão (Preto) no ano retrasado e também já fomos para outros lugares. Acompanhamos esse trabalho de perto. No começo desse ano, também trouxeram todos os meninos de Ribeirão, Franca e de São Bernardo para treinarem com a gente. Isso é muito importante para nós e para eles também. Para nós porque temos uma noção de que servimos de exemplo e para os meninos, para terem alguém em que se espelhar também.
G: Acho que o Sesi entrou para massificar e de pouquinho em pouquinho e está mudando a história. O Sesi está crescendo, os outros estão vendo isso e estão querendo crescer junto. Com o profissionalismo, nós atletas, nos sentimos com um pouco mais de obrigação de corresponder. Enquanto é amador, é amador. Quando começa a profissionalizar, a vontade de crescer junto com o esporte é muito grande.

L!: Qual a nota que vocês dariam para o esporte brasileiro? Em que nível o esporte brasileiro está?
G: Olha, no polo aquático costumamos dizer que há três escalões no mundo: o dos campeões mundiais, que são as equipes do Leste Europeu; em um segundo escalão, que são aquelas que estão de 6º a 10º lugar; e nós estamos em um terceiro escalão. Disputamos para chegar em um 12º lugar, não nas últimas colocações, mas em colocações mais abaixo. Então, de 0 a 10, estamos no (nível) 4 ou 3, talvez. Ainda falta muito para nós evoluirmos e para todo o resto evoluir também.
R: Eu dou nota 4. O atleta brasileiro precisa ser mais profissional também. Agora que está começando a profissionalizar o esporte no Brasil, você precisa mudar a mentalidade do pessoal. Nos últimos dois anos, mudou muita coisa em relação ao que era antigamente. O atleta treina oito horas, tem uma visão profissional do esporte, mas isso precisa estar na cabeça de todo mundo para chegarmos ao segundo escalão. Batemos de frente com o Canadá, por exemplo, que é do segundo escalão. Perdemos de dois gols do Canadá, já ganhamos (dessa equipe), perdemos o Pan-americano por fatalidade do Canadá (o Brasil caiu nas semifinais diante da Seleção Canadense), mas nós estamos entre o segundo e o terceiro escalão.

L!: Uma curiosidade: de onde vem seu apelido, Grummy?
G: Quando eu comecei a jogar, aos sete anos, treinava com o pessoal mais velho e eu tinha uma voz um pouco grossa. O pessoal falava que eu parecia um (personagem animado) que é o Glomer, mas o pessoal errou e começou a me chamar de Grummy. Eu não assumia, começava a falar que eu era o Gustavo, e se você ficar bravo, aí realmente (o apelido) “pega”. Depois que “pegou”, eu assumi porque é um jeito diferente. Aqui no Sesi tinha um outro atleta com o mesmo nome. Hoje eu prefiro que me chamem de Grummy.

L!: Para quem quiser seguir nesse esporte, qual é a dica que vocês dão?
G: Acho que não tem idade certa para começar. Você pode começar com sete, dez anos. Você deve ter vontade de se dedicar, se empenhar, estar disposto a fazer uma coisa que é um pouco diferente. Se gostar de um esporte que precise fazer gol (risos), eu dou a dica de vir para o polo aquático.
R: Dedicação. Esse é o primeiro esporte em dificuldade de trabalhar mais grupo muscular, então é um esporte muito cansativo. É preciso ter dedicação, sonhar alto, pensar em jogar na Seleção Brasileira, em ser campeão brasileiro.

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