segunda-feira, 23 de abril de 2012

Jogadores nascidos no Brasil brilham por outros países no polo aquático

postagem do Diário Lance e no site www.lancenet.com.br por Rafaeal Valesia em 23/04/2012 às 7:00 hs.

Felipe Perrone, Tony Azevedo e Pietro Figlioli nasceram no Rio de Janeiro, mas destino os levou a outras seleções.

Tony Azevedo é capitão da seleção dos Estados Unidos (Foto: US PressWire)

O Brasil não disputa os Jogos Olímpicos no polo aquático masculino desde 1984, na edição realizada em Los Angeles, quando ficou em último. Neste período, o país não deixou de ter representantes na competição, com atletas atuando por outros países. E em Londres não será diferente. Três jogadores nascidos no Rio de Janeiro lutarão por medalhas na Inglaterra.
Em comum, Felipe Perrone, Tony Azevedo e Pietro Figlioli têm muito pouco. Além do fato de nascerem na Cidade Maravilhosa, os três já participaram de uma Olimpíada. Mas suas histórias e o modo como saíram do Brasil para jogar por outras nações são bastante distintos.
Dos três, Perrone é o que mais manteve seus laços com a pátria mãe firmes. Ele atuou pela Seleção Brasileira e foi medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de 2003, em Santo Domingo. Mas, dois anos depois, trocou o Brasil pela Espanha, em parte por influência do irmão, Kiko, também atleta do polo aquático.
A mudança, segundo ele, foi para buscar uma carreira mais sólida, já que a modalidade em que atua esbarra no amadorismo no Brasil. Na Espanha, Perrone tem vários benefícios por ser atleta da seleção, como bolsa de estudos em universidade e até desconto para comprar carro. Algo impossível no Brasil hoje.
Tony Azevedo, por sua vez, foi capitão dos Estados Unidos em Pequim-2008, e levou a medalha de prata. Sua chegada à América do Norte aconteceu com menos de um ano de idade, ao se mudar com a família.
O pai, Ricardo, foi jogador da Seleção Brasileira, e posteriormente tornou-se técnico da equipe nacional americana, o que influenciou na carreira de Tony nas piscinas.
– Não vejo o meu sucesso com o time americano por um outro país. Vejo isso como se eu representasse os Estados Unidos e o Brasil ao mesmo tempo. Quero ganhar o ouro para os dois países juntos – falou Tony ao LANCE!, por e-mail.
Por fim, Pietro Figlioli tem a trajetória mais singular do trio. Filho do brasileiro José Sylvio Fiolo, ex-recordista mundial dos 100m peito na natação, o jogador também se mudou com os parentes em 1988 para a Austrália, onde jogou pela seleção local até 2008. Agora, ele compete sob a bandeira italiana.
Para Perrone, o sucesso do trio longe do Brasil mostra que, no país, mão de obra é o que não falta para que a modalidade cresça.
– Tenho certeza absoluta quanto a isso – falou o “espanhol”.


Pietro Figlioli não fala português e joga pela Itália (Foto: Giorgio Scala/Fina)

Pietro tomou rumo distinto do pai nadador

Se Pietro Figlioli é pouco conhecido no Brasil, seu pai ganhou notoriedade no país principalmente no fim da década de 60.

Pietro é filho de José Sylvio Fiolo, que em fevereiro de 1968 bateu o recorde mundial dos 100m peito no clube Guanabara, no Rio de Janeiro. Uma multidão se reuniu para ver o atleta se tornar o mais rápido do planeta na prova, com a marca de 1m06s4, nadando sozinho na piscina. Ele também disputou duas Olimpíadas, na Cidade do México-1968 e em Munique-1972.

Em 1988, quando Pietro tinha quatro anos, a família mudou-se para a Austrália. Lá, ele tentou várias modalidades, como o vôlei, antes de escolher o polo aquático.

– Comecei na natação porque meu pai era o treinador do time na minha escola. Acho que poderia ter me tornado um nadador, mas fiquei entediado e tentei outros esportes – disse Pietro, por e-mail.

Dos três atletas do polo aquático citados nesta reportagem, ele é o que menos contato tem com sua terra natal atualmente.

– Atualmente sinto-me italiano, mas desde pequeno me considerei australiano. Só visitei o Brasil duas vezes em férias, então não sei muito sobre o país – disse Pietro, que não fala português.

Capitão americano queria ser da Seleção

Durante sua infância na América do Norte, Tony Azevedo sonhava em atuar no polo aquático como um jogador do Brasil. Mas o destino quis que ele se tornasse capitão dos Estados Unidos em um dos resultados mais importantes na história recente, a medalha de prata na Olimpíada de Pequim-2008.

O atleta de 30 anos alcançou este patamar, assim como Pietro Figlioli e Felipe Perrone, principalmente por causa da influência familiar. Além de ser filho do ex-jogador da Seleção Brasileira Ricardo Azevedo, seu tio Carlos Antônio da Rocha Azevedo foi atleta olímpico, e representou o Brasil na natação nos Jogos de Munique-1972 nas provas de 200m e 400m medley.

Questionado se ele jogaria pelo Brasil um dia, ele concordou.

– Meu objetivo é ganhar uma medalha de ouro (em Londres), e agora isto será com os Estados Unidos. Mas quando criança, eu sonhava em morar e jogar pelo Brasil, então já considerei essa possibilidade – falou Tony, por e-mail.

Já classificado para jogar na Olimpíada inglesa, ele não poupa elogios à sua terra natal, apesar de falar português muito pouco:

– Eu amo o Brasil, que sempre será uma grande parte da minha vida. Talvez um dia eu more aí. 


Felipe Perrone representa a Espanha (Foto: EFE)

Contra o Brasil, Perrone enfrentou padrinhos

No dia 1 deste mês, Felipe Perrone passou por uma situação inédita e inusitada em sua carreira. Jogador da Espanha desde 2005, ele enfrentou pela primeira vez na vida a Seleção Brasileira, que ele defendeu até meados de 2004.

O encontro aconteceu no Pré-Olímpico em Edmonton, no Canadá, logo no primeiro dia do torneio. E a Espanha, favorita, goleou por 17 a 7. Com o vice-campeonato no torneio, os europeus se classificaram para a Olimpíada de Londres.

No duelo contra o Brasil, o coração de Perrone ficou dividido.
– Teve até uma história engraçada. Meu colega espanhol disse que eu poderia cantar o hino brasileiro, e claro que eu cantei. Foi uma situação bem diferente, esquisita mesmo – contou Perrone por telefone, diretamente da Itália, onde defende o clube Pro Recco.

As curiosidades do confronto não pararam por aí. Contra o Brasil, Perrone enfrentou Gabriel Reis e Felipe Santos, que são seus padrinhos de casamento. E chegou até a receber pedidos de jogadores do Brasil para afrouxar a marcação.

– Na hora do jogo rolou até umas brincadeiras, me falavam para que a gente deixasse eles marcarem um gol. A realidade dos dois times é bem diferente – falou o jogador.

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