terça-feira, 27 de março de 2012

O Esporte Não Pode Nunca Estar Dissociado Da Educação, Nem Quando Se Fala Em Alto Rendimento

Em resposta as bobagens ditas na midia do polo aquático nos últimos dias, este blog pegou uma postagem do blog do Alberto Murray: Alberto Murray Olímpico (www.albertomurray.wordpress.com) de 19 de março de 2012 - profundo conhecedor do mundo olímpico, em que demonstra a necessidade ter sempre em mente que sua vida esportiva, mesmo sendo de alto rendimento, um dia acaba.

"Uma das funções precípuas do esporte é tornar o praticante uma pessoa melhor para a sociedade. E é verdade, quem o pratica aprende coisas que somente o esporte ensina. E somente quem é do esporte entende. Antigamente o esporte cumpria melhor com seus dois papéis essenciais: promover saúde e criar indivíduos melhores para a sociedade. Mesmo o atleta de alto rendimento, de nível olímpico, não treinava à exaustão, como é hoje em dia. Seu condicionamento físico geral, enquanto esporte saúde, era mais adequado. E o atleta também, paralelamente à sua atividade física, tinha outra atividade profissional, estudava, trabalhava. Com o passar do tempo, o esporte distanciou-se desses objetivos. Atualmente atletas de alto nível treinam em dois períodos, vivem no limite de suas capacidade, o que proporciona lesões em série, não tem tempo para mais nada e vivem exclusivamente dos ganhos que a atividade desportiva competitiva lhes proporciona. A razão disso é o profissionalismo exacerbado e a ânsia de ganhar cada vez mais dinheiro. Também é a busca desenfreada por dinheiro que leva o atleta a se dopar. Claro que nos dias atuais, não podemos exigir dos atletas de alta performance que tenham no esporte uma mera atividade diletante. Mas o atleta, ainda assim, pode ter alerta que não fazer nada mais do que treinar e competir pode ser ruim para ele. Isto porque o tempo de atleta de um indivíduo, se comparado com todo o período de sua vida é muito curto. Portanto, alguém que dos 15 aos 30 anos não tenha feito outra coisa que não treinar e competir, quando abandonar o esporte de competição, não saberá fazer outra coisa. Será ruim para o próprio, que pode ficar à margem do mercado de trabalho, enfrentando dificuldades financeiras. E também não será bom para a sociedade, uma vez que a pessoa pode se tornar um peso social, um inútil. Quando isso ocorre, é o esporte atuando justamente no sentido contrário do que deveria ser. Em vez de preparar pessoas melhores para o convívio social, o esporte servirá para criar pessoas que, mais tarde, poderão enfrentar sérios problemas de toda ordem. São poucos os atletas profissionais que conseguem fazer um “pé de meia” que lhes dê tranquilidade pelo resto da vida. Mesmo no futebol, os salários altos são para uma minoria. E não é raro vermos atletas que foram fenomenais, passando por dificuldades financeiras e psicológicas após terem deixado de competir. Por isso, por mais que a profissão de atleta exija muito de quem a exerce, ele não pode deixar de pensar no futuro. E tentar conciliar a prática desportiva com outra ocupação que lhe possibilite continuar sendo cada vez mais útil à sociedade. E também é por essa razão que o esporte nunca deve caminhar dissociado da educação, nem quando falamos em alto rendimento."

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