quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cielo, Coaracy Nunes e os rumos da natação

O principal atleta brasileiro está sob pressão intensa. Na Corte Arbitral do Esporte, amanhã, será a palavra de Cesar Cielo contra a evidência de fraude, anunciada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, CBDA.

Além de estar em jogo o futuro de um jovem atleta campeão olímpico, a decisão da Corte poderá influenciar nos rumos da natação brasileira.

Por isso, faço uma retrospectiva sobre o atleta e o contexto de sua atuação no esporte brasileiro.

A revelação

Em setembro de 2008, Cesar Cielo fez gravíssimas críticas à CBDA e, por extensão, ao presidente, Coaracy Nunes, há 23 anos no poder.

Depois de afirmar que precisou de ajuda do pai para pagar os treinos nos Estados Unidos, assim manifestou-se o campeão, microfones abertos:

"Eu estou falando isso tudo porque estou de saco cheio. Eles (dirigentes) vão ter que me aguentar, porque agora eu sou campeão olímpico”.

Disse mais:

"A saída de Coaracy (da CBDA) já virou uma brincadeira entre nós (nadadores), porque com ele nada muda”.

Quando foi para os Estados Unidos, em 2006, Cielo disse que perdeu o apoio da CBDA, patrocinada pelos Correios. O nadador retornou como campeão e abriu a boca. Agora, com autoridade. Corajoso o rapaz.

Surpresa

Pois 24 horas depois dessas gravíssimas e ousadas manifestações, Cielo apareceu abraçado e sorridente com Coaracy Nunes, e já com o boné dos Correios, patrocinador da CBDA.

Que argumentos usou Coaracy Nunes, para que um “rebelde” nadador trocasse a agressão verbal pelo abraço? O lamento pelo sorriso?

Quem, até então, ousara desafiar o comando do poderoso cartola? Sobre esse diálogo nunca saberemos. Mas devem ter sido argumentos poderosos, palavras convincentes, claro, de muito valor.

Coaracy Nunes precisa de um atleta de ouro para coroar suas mais de duas décadas à frente da Confederação. Não podia tê-lo na oposição.

Mais: ter Cielo nas piscinas é o chamariz indispensável para novos patrocinadores. A CBDA já tem os Correios e o Bradesco. É pouco. Quer mostrar que a natação é poderosa, e entre os esportes individuais pode superar o atletismo. A disputa silenciosa entre os cartolas dessas modalidades existe, nos bastidores, há muitos ciclos olímpicos.

Por isso, Coaracy também está apreensivo. Se a pena da Corte Arbitral for mais pesada que a “advertência” aqui aplicada, Coaracy perderá em dobro: ficará sem o atleta de ouro e verá abalado o prestígio da instituição que dirige, pois tentou amenizar um caso grave para proteger o atleta ilustre.

Caso contrário, ganharão - e festejarão - Cesar Cielo, a natação brasileira, Coaracy Nunes e, por extensão, o Comitê Olímpico, que terá um atleta de peso para a contabilidade do pódio dos Jogos de Londres 2012 e Rio 2016

Por José da Cruz às 08h46 do dia 19 de julho de 2011 no blog do José da Cruz alocado dentro do site: www.uol.com.br

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