Matéria publicada hoje (30/03), no site globoesporte.com
Jogadora da seleção brasileira de polo aquático busca título inédito na Grécia
Há seis anos fora do país, a centro Marina Canetti tenta conquistar para o Ethnikos o troféu do segundo campeonato mais importante da Europa
Danielle Rocha
Rio de Janeiro
A página do jornal foi guardada. Ela marca a passagem de Marina Canetti pela Grécia, a centro brasileira que ajudou o Ethnikos a conseguir um feito inédito em sua história: disputar pela primeira vez o título do Troféu LEN de polo aquático. Competição que, em importância, se equipara no futebol à Liga Europa (abaixo da Liga dos Campeões). Na primeira partida contra o Ugra Kanthys-Mansiysk, da Rússia, Marina e suas companheiras viajaram até a Sibéria, mas não conseguiram voltar com a vitória. A comida derrubou parte do time, que acabou perdendo por 13 a 12. O jogo de volta está marcado para o dia 7 de abril.
Até lá, a integrante da seleção brasileira tenta tirar proveito do intercâmbio. A oportunidade de atuar na equipe, que conta com duas medalhistas de prata nas Olimpíadas de Atenas-2004, com a holandesa que foi artilheira do Mundial de Roma e com a goleira titular da Grécia, surgiu depois que Marina manifestou o desejo de deixar o clube que defendia na Itália. Estava cansada do país, dos italianos e de todas as dificuldades que enfrentou ao longo de dois anos.
- Era meio difícil porque havia um preconceito com estrangeiros. Eu queria ir para outro lugar. Comentei com a holandesa que joga aqui e, um mês depois, o técnico me ligou. Conversamos no Mundial e assinei o contrato lá mesmo. Está sendo muito legal. Elas me dão muitas dicas, há uma troca de informação e eu também observo muito o que fazem. Gosto muito do tipo de polo que é jogado aqui, onde prevalece a habilidade. Nos Estados Unidos, as meninas são maiores e a força física é mais importante - disse.
Marina fala com conhecimento de causa. Há seis anos, um convite para estudar e defender a Universidade de Long Beach abriu as portas para a sua carreira internacional. O padrinho foi Ricardo Azevedo, técnico da seleção americana masculina e pai da maior estrela do time: Tony Azevedo. Hoje, ela é mais associada ao polo dos Estados Unidos do que ao do Brasil.
- As meninas falam muito que eu vim da escola americana porque fiquei quase quatro anos lá e tenho o estilo dela. Mas a escola europeia é a que se aproxima mais do jogo brasileiro. Acho válido que a Confederação contrate um treinador estrangeiro visando aos Jogos de 2016, mas para auxiliar os bons técnicos que temos no país. Também tem que ser uma pessoa conceituada e com ideias. No Brasil só há um campeonato de verão e outro de inverno. Se pudéssemos ter mais experiência, treinar e não precisar trabalhar, o nível seria igual. Todas da nossa seleção tiram férias no trabalho para poder viajar para o Mundial.
Na Europa, a situação é bem diferente. A possibilidade de viver do esporte é algo real. Marina diz que nenhuma de suas companheiras precisa exercer outra atividade profissional. As que são donas de medalhas olímpicas recebem um salário vitalício do governo grego. Na Itália, algumas faziam fotos como modelos e até ela chegou a posar para um calendário com outras integrantes do time. E nem mesmo todas as vantagens fizeram a brasileira pensar em solicitar a dupla cidadania.
- Quando eu estava na Itália falavam muito sobre essa coisa de me naturalizar. No início, despertou meu interesse. Eu tinha o exemplo da Alexandra Araújo que se naturalizou e foi campeã olímpica. Mas ainda tenho fé no Brasil. E agora mais, com a escolha do Rio como sede das Olimpíadas.
O contrato com o Ethnikos termina em maio. Por enquanto, Marina se diverte com a curiosidade da imprensa local, que tem dado destaque a uma brasileira que é atleta laureada do Flamengo, um time de futebol assim como o grego. Até o momento, ela só lamenta ainda não ter podido jogar na piscina que foi palco do torneio olímpico de 2004.
A dificuldade com o idioma permanece. Embora tenha aprendido algumas palavras, a ida até o supermercado continua sendo uma aventura. Ainda assim, conseguiu comprar, com uma boa dose de sorte, as latas de leite condensado que tanto queria para fazer os brigadeiros de sua festa de aniversário. O doce agradou tanto, que ela perdeu as contas de quantas vezes teve de repetir a receita.
Essa foi uma das formas encontradas por Marina para matar a saudade de casa. A ex-nadadora, que em 2001 teve vergonha de começar na escolinha da modalidade comandada pelo pai, Antonio Canetti, por ter 18 anos e ser mais velha do que suas duas irmãs, hoje não se vê fazendo outra coisa. Ela, Manuela e Cecília chegaram à seleção. E sonham com dias melhores.
- Eu não tenho carro aqui. Pego carona ou entro no trenzinho e desço onde acho bonito. São seis anos já vivendo fora do país, mas tenho um ganho cultural enorme e faço amizades também. Já estou pensando nos Jogos de 2016. Acho que ainda temos tempo de fazer uma boa participação dentro de casa, só que precisamos começar ontem. Todo esporte no Brasil que tem um apoio legal chega lá. É assim com o vôlei, com o futebol e com a ginástica. É só apoiar que o resultado vem.
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