Técnico croata vai "ensinar" atletas do polo a nadar
FERNANDO ITOKAZU
da Folha de S.Paulo
O Brasil contratou o técnico croata Goran Sablic para "ensinar" seus jogadores de polo aquático a nadar.
O presidente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Coaracy Nunes, anunciou ontem o croata como técnico da seleção masculina.
Sablic treinou o Pinheiros por cerca de dois meses na temporada passada, período em que levou o clube paulista ao bicampeonato da Liga Nacional.
Mas, segundo Coaracy, o que o levou a contratação do croata para a seleção foi a elaboração de um relatório sobre a situação do polo aquático brasileiro.
"Ele deixou claro que o brasileiro treina muito pouco e não sabe nadar, aquele nado específico", afirmou o dirigente. "No primeiro quarto, o Brasil joga muito bem, mas depois vai caindo e levando gols."
Amadores, os jogadores de polo brasileiros treinam à noite, depois do expediente: geralmente, das 19h às 22h.
Na Croácia, por exemplo, os atletas são profissionais e treinam pelo menos seis horas diárias, divididas em dois turnos.
Goleiro da seleção, Luis Maurício Santos, 29, é engenheiro mecânico da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e treinou com Sablic no Pinheiros no ano passado."
Essa coisa da natação tem a ver um pouco com o treino reduzido", afirmou Santos. "Em duas, três horas, temos que nadar e treinar a parte tática."
"Além disso, o polo não é muito popular no Brasil. Temos poucos atletas que optam pelo esporte. Às vezes, um cara não nada muito bem, mas tem bons fundamentos e acaba no polo", diz o goleiro, que treina menos natação que os outros jogadores e faz mais trabalho específico de sustentação.
Daniel Mameri, 39, que integrou a seleção brasileira até o ano passado e também treinou com o croata, afirmou que o time ficou um pouco assustado com a mudança imposta pelo técnico no sistema de trabalho.
"Nadávamos 2.000, 3.000 metros por dia e ele queria que fossem 5.000, 6.000 m", disse Mameri. "A gente sempre nadou pouco, por isso o treino era muito forte, muito intenso."
Para Carlos Carvalho, técnico do Fluminense, há duas formas de analisar o fato de os brasileiros não saberem nadar.
"Se analisarmos brasileiros que fazem sucesso no exterior, vemos que não é bem por aí", afirmou Carvalho. "Mas, se colocarmos dentro do contexto, o jogador brasileiro não só não sabe nadar como não sabe chutar, não sabe passar, não sabe se deslocar como um do Leste Europeu. A realidade é outra."
Para o treinador, o relatório não apresenta novidades e mostra o que técnicos e atletas já sabem "há dez, 15 anos".
Técnico da equipe feminina do Pinheiros e ex-treinador da seleção, Roberto Chiappini diz que a vinda do croata pode ser benéfica, mas exige adaptação já que são formas muito diferentes de trabalho.
Coaracy apontou o polo como a atual prioridade da CBDA, que tem ainda natação, maratona aquática, saltos ornamentais e nado sincronizado.
No comando da confederação desde 1988, o dirigente ainda não viu a seleção masculina em uma Olimpíada. A última participação do Brasil foi em Los Angeles-84, quando o boicote liderado pela União Soviética acabou beneficiando o país.
Já a Croácia foi bronze no Mundial do ano passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário