domingo, 2 de agosto de 2009

Mundial de Roma - Ricardo Perrone comenta a final

Que jogo foi esse?!
Espero que vocês tenham visto a final pela internet. Se não, para quem gosta de pólo, é um vídeo para copiar, comprar, baixar ou, seja como for, guardar para sempre como um clássico à altura da final olímpica de Barcelona 92. Que defesas tão diferentes e tão eficientes! Que golaços, que show de tática, que jogo nadado e disputado! Sem nenhum lance de maldade, disputado limpamente e com respeito.
Acho que vou ficar devendo um comentário mais equilibrado e estruturado, porque a emoção foi tanta e houve tantos lances que merecem vários parágrafos para analisar, que a minha cabeça está um nó. Foi um jogo para ver e rever dezenas de vezes, para poder captar a beleza e sutileza de seus lances. Como a rapidez do chute do Udovicic no primeiro e terceiro gol da Sérvia, em que o goleiro não conseguiu nem levantar os braços, antes da bola passar. Ou o primeiro (ou segundo?) gol do Xavi Garcia, em que ele dá duas balançadas bem alto e, depois, incrivelmente, sobe ainda mais e chuta por cima do braço do defesa. Ou o contraste entre o primeiro gol do Filipovic, com uma encoberta de quebrar a coluna do goleiro e o tiro de bazuca de seu segundo gol.
Mas esses foram só os lances que todo mundo guarda por causa dos gols. Vendo com calma é que vai dar para notar as marcações de centro, tanto a da Sérvia sobre o Ivan e o Xavi Valles, quanto a da Espanha sobre os centros e no perímetro, com uma sincronia absurda em que, mesmo com um defesa flutuando na frente do centro, sempre o atacante de posse de bola era acossado. Outra movimentação perfeita, tanto da Sérvia quanto da Espanha, era na defesa dos contra-ataques. O marcador de centro vinha escapando do centro até os 6 ou 7m, quando então alguém dava um bote nele ao mesmo tempo que todos os outros defesas se moviam de forma a não ter como passar a bola para qualquer jogador em condições de chute. Reparem também, por exemplo, no segundo tempo da prorrogação, com a Espanha um gol à frente, quando o David Martin vem escapando com dois corpos a frente do seu marcador e o Udovicic retarda duas ou três vezes o outro atacante da Espanha na mesma linha (Xavi Valles) para depois dar um bote rapidíssimo no David, fazendo com que ele se assuste e, em vez de chutar, passe para o Xavi que já tinha sido alcançado pelo outro defesa.
E as roubadas de bola? Teve uma do Felipe, no finalzinho do jogo ou da prorrogação, não me lembro, em que o consagrado técnico Juan Jané, comentando para a TV espanhola, disse que, naquele momento, uma roubada de bola dessas valia por um gol.
Aliás, desta vez tenho de dar uma de “meu garoto!”, porque quem viu apenas os gols no vídeo do Touca14/El Cuervo, pode achar que só o Xavi Garcia e o Guillermo jogaram bem, pois o Felipe não fez nenhum gol. Nada pode estar mais longe da verdade. Considerando a importância da partida e a qualidade dos adversários, eu diria que ele teve a melhor atuação de sua vida. Além de ter jogado incríveis 37 min 35s dos 38 do tempo normal mais prorrogação, ele foi brigar de segundo centro em mais da metade dos ataques espanhóis, expulsou mais do que os dois centros regulares juntos (inclusive, duas vezes, o Filipovic), marcou o centro diversas vezes sem levar nenhuma falta grave, roubou bolas na defesa e deu um sem número de contra-ataques. Para a perfeição, só faltou fazer um golzinho, mas, naquela defesa sérvia e com um goleiro como o deles, tem que estar com o braço muito solto e sem ácido lático, para dar um canhonaço, o que era impossível, com o desgaste que ele estava tendo. É claro que estou até agora dando cabeçadas na parede, de raiva de não terem ganho a medalha de ouro, mas eu não poderia estar mais orgulhoso de meu filho. Um verdadeiro coração de leão!
Um último comentário, que nunca nos ocorre quando ganhamos, é que essa disputa de pênaltis para decidir uma medalha é algo injusto demais. Me lembro até hoje da cara de desespero e dor do Filipovic, então com 20 anos, no Mundial de Melbourne 2007, quando perdeu o pênalti que deu a medalha e a vaga olímpica para a Espanha. Ontem ele foi um dos heróis da conquista da Sérvia, mas, por outro lado, um outro garoto de enorme futuro, Blai Mallarach, de 22 anos, é que saiu como vilão ao perder os dois pênaltis cobrados. Vai ser dificílimo para ele se recuperar psicologicamente desse trauma, principalmente porque sempre tem um monte de gente insensível e que nunca se viu numa situação dessas para encher a boca e dizer que o moleque amarelou. Pode até ser que ele não tenha conseguido controlar os nervos, mas só quem já ficou sozinho no meio da piscina, com um goleirão pela frente, 5 mil pessoas gritando e mais alguns milhões vendo pela televisão, pode entender o que é uma pressão dessas. Estou falando isso porque me lembrei que o Kiko, quando teve de bater pênaltis na decisão do bronze de 2007, me falou que depois de bater o primeiro e fazer, já nem estava se incomodando de perder, só não queria ter de bater de novo. Felizmente, ele bateu de novo, fez e ganharam, mas alguém sempre acaba de vilão da história.
Um abração para todos, desculpem não ter podido responder individualmente a todos que mandaram mensagens de apoio e até o próximo. Afinal, “Espanha ouro em 2011” não tem 13 letras?
Perrone

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