Fala galera,
Ainda estou meio abalado com o jogo de ontem. Foi literalmente de matar o velho. Chegamos às 15:00h para ver os jogos da tarde. Primeiro um Canadá x Alemanha, pelo 5º ao 8º lugares, meio esquisito, pois o time da Alemanha era visivelmente superior ao do Canadá, que por outro lado parecia muito mais motivado. No fim, deu Alemanha com alguma folga.
Em seguida, o primeiro jogo da semi-final, entre uma Sérvia totalmente renovada (sem os sete titulares do último Mundial) e uma Croácia com relativamente poucas mas cruciais alterações. Retiraram-se da seleção o goleiro Vican, para muitos o melhor do mundo, e um dos centros, Smodlaka, cracaço. Alem desses, a Croácia não contou também com o seu único canhoto, Jokovic, machucado há bastante tempo.
A Sérvia vinha de uma campanha irregular, em que perdeu da Espanha e empatou com a Austrália no grupo, enquanto a Croácia, no único jogo contra um adversário a sua altura, massacrou Montenegro, mas depois, nas quartas-de-final, não mostrou nada de mais.
O jogo começou com a Croácia dominando e fazendo dois gols seguidos muito bonitos. No primeiro, o garoto (acho que 19 anos) Sukno meteu uma bola de ponta que só faltou botar o goleiro para dentro junto com a bola de tão forte, e, no segundo, o Boskovic, eleito melhor jogador da Europa na temporada passada, meteu um chute cruzado da posição 2 que passou numa floresta de braços.
Nessa hora e depois durante o jogo todo, a chapa esquentou de verdade. Poucas vezes vi um jogo com tantas reversões no ataque como esse. E também foi a hora em que o Udovicic e as novas estrelas da Sérvia, Filipovic e Prlajnovic (ambos 87), que sempre jogavam abaixo de seu potencial quando os veteranos estavam na água, começaram a dar seu show. Primeiro o Udovicic pegou uma bola fora da linha da trave, a uns 4m da linha de fundo e arrastou seu marcador para dentro, tirou o goleiro e fez um gol que até agora não entendi como ele conseguiu. Depois o Filipovic deu duas balançadas daquelas que ate a gente na torcida levanta a cabeça para ver o chutesair e não sai e depois passou com a força de um chute a bola milimetricamente na mão do Prlajnovic na outra ponta, que havia livrado meio corpo na frente do marcador. Gol de cinema. Com esses gols, o time da Sérvia e a torcida pegaram fogo. A Sérvia passou a dominar o jogo e abriu dois gols. E tome de porrada, puxão, cotovelada e reversão. Como os dois centros da Croácia são muito bons, Hinic e Dobud, a Sérvia começou a ficar pendurada até ficar só com o goleiro reserva disponível no banco. Mas, mais uma jogada de craque do Filipovic mostrou que ontem não ia dar para a Croácia. No último quarto, com a Sérvia já procurando gastar o tempo de posse de bola, o garoto recebeu uma bola nos 6 ou 7m, marcado e tomou um porradão na cara que marcou-lhe o rosto (deu para ver claramente depois no replay). Em seguida, ele passou a mão no rosto, pegou a bola, subiu até tirar o calção da água e mandou um chute de rosca impossível de pegar, para depois virar para o banco da Croácia e comemorar gritando para o Rudic, técnico tri-campeão olímpico, pela Iugoslávia duas vezes e depois pela Itália).
Bom, sai desse jogo meio preocupado, pois embora a Espanha já tenha ganho várias vezes da Croácia e tenha ganho da Sérvia no grupo de classificação, com toda honestidade, vendo esses dois times fora da água, batendo bola e jogando, não dá para entender como isso seja possível.
Como o jogo da Espanha só seria quase tres horas depois, fomos para a parte comercial do Conjunto Esportivo, sentamos em frente à sorveteria e começamos a comer salada de frutas. Bem saudável e inocente. No caminho já tínhamos encontrado a família Canetti. Logo depois apareceram o Mega, Charuto, Kananda, mulher do Felipe e vários espanhóis. Depois chegaram Paulão, Rodney, Crisinha, Eric Bell, Carlinhos, Cris e mais gente que não me lembro. Nem preciso dizer que começaram a brotar cervejas em toda parte bastava eu olhar para o lado que aparecia um copo cheio na minha frente. Eu confesso que estava muito nervoso, mas não estava sozinho nessa não. O Mega e o Charuto então foram para o jogo já meio tortos.
O início do jogo contra os USA foi de dar raiva. A Espanha dominava totalmente a defesa, com os americanos sem conseguir a menor ameaça de chutar de uma boa posição ou pingar uma bola limpa, mas no ataque, na hora da conclusão a bola ia para fora ou desviava em algum braço ou no goleiro. Seguindo a máxima do futebol, quem não faz, leva, e em dois contra-ataques da Espanha, depois de errarem o chute os americanos vieram e fizeram dois gols. Felizmente, no finalzinho do primeiro quarto o Guillermo Molina meteu um canhonaço de longe e diminuiu.
O resto do jogo continuou assim. A Espanha na defesa estava quase perfeita, roubando uma infinidade de bolas, mas no ataque perdia três ou quatro chances claras de gol antes de fazer um, enquanto os USA raramente tinham uma chance clara, mas aproveitavam todas as que tinham. No último quarto, mais um petardo salvador do Guillermo deu uma folguinha para a Espanha levar o jogo até terminar.
Se vocês tiverem oportunidade depois de ver o vídeo desse jogo (o site http://www.prowaterpolo.com/ vende DVD que são enviados pelo correio), reparem, além dos golaços do Guillermo, na marcação que o Felipe faz no gigante Bailey, que joga atualmente no Partizan, da Sérvia. Eu falei para o pessoal que era a marcação “pingüim”, porque toda hora o Felipe afundava e aparecia na frente do centro. Não foi expulso ali nenhuma vez e ainda roubou a única bola que foi pingada.
No aspecto “fair-play” o jogo foi também totalmente diverso do anterior, sem qualquer atrito mais forte ou pancada mal intencionada.
Vocês devem ter estranhado que falei muito mais do jogo da Sérvia do que do da Espanha, mas além da cerveja, a emoção foi tão grande que é melhor me segurar para não falar bobagem.
Vamos ver o que acontece amanhã. Uma boa vantagem para a Espanha é que os sérvios são tradicionalmente amigos dos jogadores espanhóis e não vão entrar com o ódio que demonstraram nos dois jogos anteriores contra Hungria e Croácia. Com um pouco de esperança, eles podem desconcentrar-se Mas podem ficar certos que eu aqui de fora estou morrendo de medo. Esses caras jogam com certeza o melhor waterpolo do mundo, tecnicamente. Mas, por outro lado, ninguém joga com mais coração do que a Espanha.
Um último detalhe a favor da Espanha. Como vocês já sabem, a Ema tem um arsenal de santinhos protetores. Desta vez, com o nosso hotel a 200m do Vaticano, vocês podem imaginar como está a bolsa dela.
Abração e espero muita torcida de todos vocês,
Perrone
Nenhum comentário:
Postar um comentário