domingo, 17 de agosto de 2008

Olimpíada 4º dia - comentário Ricardo Perrone

Hoje, dia 15, depois das fortes chuvas de ontem, finalmente vimos um céu azul. Nada daquele azul profundo de um dia de verão brasileiro, um azul esbranquiçado, com muitas nuvens tipo "rabo-de-galo", que indicam ventos fortes na estratosfera. Para quem só viu céu cinzento desde que chegou há dez dias, foi mais que suficiente para levantar o astral. Fomos hoje procurar uma igreja para a Ema pagar suas promessas. Não acredito muito nessas mandingas, que me cheiram um pouco a corrupção de santo, mas, como dizem os espanhóis: "que las hay, las hay" e é melhor não discutir e deixar D. Ema com as manias dela.
Para evitar o stress do taxi, pegamos o metrô e, óbvio, saltamos na estação errada. Como era uma distância razoável resolvemos ir a pé, passando pela Praça da Paz, lotada de gente, e seguindo ao longo dos muros da Cidade Proibida. Rodeamos depois uma parte de um parque enorme, como tudo aqui, cheio de templos e pagodes, chamado Bei-Hei. No total, devemos ter caminhado uns 8 a 10km, felizmente a maior parte na sombra, pois a cidade é muito arborizada. Mas, quando finalmente chegamos, vimos que a caminhada valeu a pena. A igreja, construída originalmente no início do século XVII, destruída no XVIII e reconstruída duas vezes em locais diferentes, não é igual a qualquer outra que eu já tenha visto. E olha que com as promessas da Ema eu conheço mais igreja que muito padre. Para começar, na entrada, há uma mureta com uma série de leões estilizados, além de dois pagodes chineses de cada lado da entrada. Como todo pagode, super coloridos e decorados com uma multidão de desenhos e figuras. A fachada da igreja é toda cheia de detalhes, mas num estilo próprio, nem rococó, nem modernista como as de Gaudí. Dentro, outra surpresa: uma estrutura tradicional, com aquele corredor mais longo terminando no altar, duas alas perpendiculares formando a cruz e as colunas muito finas suportando as seções abobadadas do teto. Até aí, tudo igual a toda catedral católica, mas a decoração, só vendo. Nada daquele aspecto sério e até triste das igrejas tradicionais européias, onde tudo é de um cinza meio manchado de fumo de vela. As colunas são pintadas de verde escuro e vermelho sangue, os vitrais são finos e altíssimos, com uns 50 cm na base e uns 10m de altura, as paredes pintadas em quadrados decorados, parecendo azulejos, e, por todo o interior, detalhes e faixas em tons de vermelho vivo e dourado, bem ao gosto chinês. Gostaria de mandar umas fotos, mas não tiramos de dentro, por respeito, e o computador que estou usando está com as entradas USB com defeito, não permitindo carregar as fotos.
Fiquei em casa à tarde por estar com gastrite e diarréia (será que é de nervoso?) e vi uma parte do jogo Grécia x Hungria e todo o Itália x China, de pólo feminino. No primeiro jogo, a Hungria ganhou fácil, mas no segundo a Itália sofreu para ganhar da China. Só conseguiu porque a Elisa Casanova, uma jogadora de centro bem gorda que o El Cuervo mostrou em vídeo, desequilibrou, fazendo quatro gols na raça. Não dá para fazer comentários mais detalhados, porque não acompanho o pólo feminino. Minha impressão é que o nível em geral melhorou muito, com algumas jogadoras chutando muito forte e saindo bem da água, mas ainda falta bastante para que chegue ao estágio do vôlei ou basquete feminino, onde a técnica e tática das meninas é praticamente igual à dos homens e a diferença é apenas de força muscular nos movimentos. Antes do jogo da China, foi apresentado um video sobre as principais regras e jogadas de pólo. Muito bem feito, com tomadas curtas de jogos e diagramas com bonecos se movimentando. Acho que isso deveria ser feito também no telão antes de toda rodada de campeonato internacional ou distribuída em cartilhas, em campeonatos nacionais sem transmissão de TV. O pólo é um esporte complicado para o leigo e, sempre que algum amigo que não conhece pólo aquático vê um jogo e me encontra depois, comenta que não entendeu nada do que o juiz estava apitando.
Ema e Kananda chegaram agora de uma feira popular onde tinham todos os pesadelos possíveis a venda para comer. Besouro, escorpião, lacraia, cobra, cavalo-marinho, estrela-do-mar. Em geral, vivos, para você escolher e eles botarem na grelha antes de serem apresentados para degustação. Estão enjoadas até agora, só de ver.
Vamos ao que interessa. Dia 16, jogo da Espanha à tarde, fui sozinho para tentar comprar uma entrada para a parte da manhã. Peguei o metrô pra experimentar, pois pode haver engarrafamento no final dos Jogos. Depois de duas baldeações, subir e descer um monte de escadas, cheguei no Centro Olímpico e entrei pelo portão errado. Para resumir, tive de dar uma volta gigantesca para chegar à piscina já quase no final do primeiro jogo. Pelo menos, dei a sorte de encontrar um inglês cambista que me vendeu um ingresso pelos mesmos R$75 que tinha pago no 1o dia. Se tivesse barganhado teria conseguido por menos, mas estava louco para entrar e ver como estava a Itália. Só peguei o finalzinho do jogo. A Alemanha, que é chamada nos sites italianos de pesadelo, mais uma vez ganhou um jogo importante da Itália (8 x 7) e afastou-a mais ainda da disputa de medalhas. Fiquei com pena do Sottani, que é uma pessoa maravilhosa e cuja família (mulher, filha, mãe, sogra, papagaio) chega hoje para ver as finais, mas a derrota da Croácia no final da manhã ainda deixou uma remota possibilidade de classificação. Se não conseguirem, cabeças vão rolar, na certa.
O jogo seguinte foi desinteressante. A Grécia abriu logo 6 x 1 no primeiro quarto e só fez mais alguma força quando o Canadá trocou o goleiro e melhorou um pouco. O titular estava muito mal e tomou pelo menos uns três frangaços. Final 13 x 7.
A atração da manhã foi o jogo entre Croácia e Estados Unidos. Queimei minha língua completamente. Estava achando a Croácia imbatível e os americanos mais fracos que o grupo tradicional e me enganei redondamente. Desde o início do jogo, os USA mantiveram um ritmo fortíssimo, com uma defesa bem fechada e um goleiro em grande forma. O time todo está muito forte e, com isso, vários jogadores estão podendo marcar o centro e dar contra-ataque. No ataque eles estão um pouco limitados e, tirando o canhoto Varellas, que se deixarem chutar é perigosíssimo, o time fica quase que exclusivamente na dependência da atuação do Tony Azevedo. A questão é que ele esteve simplesmente brilhante nesse jogo. Meteu três golaços da ponta no Vican, com o beque defendendo o canto e todo mundo sabendo que ele ia chutar. Além disso, conseguiu diversos escanteios importantíssimos no final do jogo, quando os americanos precisavam gastar o tempo. A Croácia esteve irreconhecível. Os centros não conseguiram jogar e fizeram sete faltas de ataque. No arco, o Teo Dogas fez dois bonitos gols nos primeiros homens a mais e só. A defesa americana se fechava numa zona agressiva e os atacantes croatas chutavam para fora ou nos braços da defesa. O Boskovic, eleito melhor jogador da Europa na temporada 07-08, estava tão mal que o técnico o substituiu no 2o tempo e acho que não voltou a colocá-lo n´água. Por muito pouco, os USA não deram a surpresa completa, que seria ganhar de três gols e praticamente garantir o 1o lugar no grupo. Mas o 7 x 5 final expressou bem o domínio americano do jogo.
De tarde, primeiro jogo, depois do que Montenegro, campeão da Europa, tinha jogado contra Hungria, Canadá e Grécia, estavámos numa torcida meio ressabiada, achando difícil vencer, mas sem tanta preocupação, porque uma vitória contra a Grécia na segunda-feira já seria suficiente para passar às quartas de final. Tivemos outra surpresa, e das grandes. A Espanha começou a mil por hora, não deixou os montenegrinos respirarem um instante e conseguiu um autêntico knock-down. A imagem do boxe é apropriada, porque a expressão dos jogadores de Montenegro era de quem não está entendendo nada. Os centros da Espanha estavam num dia muito inspirado e conseguiam se posicionar bem, cavar expulsões e fazer gols. Além disso, antes dos centros chegarem ao ataque já estavam sempre o Felipe e o Molina chegando nos dois metros e fazendo um carnaval na área. O Felipe deve ter provocado certamente duas, talvez três, expulsões como segundo centro nos primeiros dois quartos. Na defesa, os marcadores de centro desta vez estiveram muito bem, o goleiro Iñaki pegou demais e, quando estavam com jogador a menos, faziam uma movimentação que não dava tempo aos adversários de pensarem. Com 3 x 0 no primeiro quarto e 7 x 1 no segundo, foi só manter o ritmo de natação e segurar um pouco mais a bola para conseguir uma vitória inesquecível. Felipe fez também um gol "jacaré" que foi até engraçado. Foi nadando com a bola pela ponta do lado direito como quem vai passá-la, sem acelerar até a linha de 6m, quando deu o "bote", isto é, um pique rapidíssimo e um chute ao lado da orelha do goleiro, tecnicamente perfeito. O Xavi Garcia recalibrou a mão e fez dois gols de homem a mais muito bonitos, sendo que, no segundo, ele literalmente atravessou o goleiro, com um chute tão forte que passou batendo nos braços e fazendo um barulho alto como se fosse na trave. Para se ter uma idéia da eficiência do ataque espanhol, o Scepanovic, ótimo goleiro de Montenegro só pegou 3 dos 12 chutes que chegaram ao gol. No terceiro quarto o técnico de Montenegro trocou o goleiro, mas não era esse seu problema. A torcida de Montenegro, que, como a da Sérvia, é insuportavelmente mal-educada e passa o jogo de pé, cantando e agitando bandeiras sem ligar para os protestos dos organizadores e de quem está atrás e não consegue ver o jogo, desta vez foi se calando, sentando e, quando o juiz apitou o final do jogo com 12 x 6, saiu murchinha para casa. E com os poucos espanhóis fazendo uma festa inesperada.
O segundo jogo da tarde quase completa a "vingança" dos ocidentais contra os países do lete europeu. A Austrália jogou um partidaço contra a Hungria e por muito pouco não sai com pelo menos um empate. Jogando com uma raça admirável, os australianos nadaram como loucos do início da partida até o último segundo. Nos dois primeiros tempos o brasileiro Pietro Figlioli e o Thomas Whalan fizeram 5 gols que qualquer húngaro assinaria embaixo. Que foguetes! Os do Pietro então, quando o goleiro tirava os braços da água, a bola já tinha batido na rede e estava voltando. Inacreditável. A Hungria visivelmente sentiu o volume de natação aplicado pelos australianos no jogo todo e seus chutes perderam aquela precisão e potência de sempre. Só conseguiram ganhar no finalzinho e, mesmo assim, porque a Austrália, também como sempre, durante o jogo cometeu três ou quatro erros infantis imperdoáveis. Exemplo, uma bola em que o centro húngaro ficou para trás uns 6m no contra-ataque e o goleiro australiano errou o passe, redundando em gol para a Hungria. Em outra, com o jogo empatado no final, um australiano deixou a bola cair da mão e o húngaro Madaras escapou e sofreu pênalti. Em um nível desses, pode até acontecer um erro desses, mas três ou quatro, só a Austrália é capaz de cometer.
O último jogo era entre Sérvia e China e, como o grande amigo Techima, do Cob e, principalmente, do time Master, nos deu convites para ver Espanha e USA no basquete, fomos comer algo e atravessar a cidade para chegar ao Estádio. Não vou comentar aqui o que foi esse show porque ia tomar muito tempo, mas, só para ter uma idéia do presentão que recebemos, os cambistas estavam vendendo os ingressos por R$1300, cada.
A situação dos grupos para a classificação às finais ficou assim, antes da última rodada preliminar: No grupo A, a Hungria já é a virtual classificada diretamente para as semi-finais, pois só precisa de um empate contra o Canadá. Grécia e Canadá estão fora das quartas. A Espanha já está classificada para as quartas e só passa em 3o se perder para a Grécia e Montenegro ganhar da Austrália. A grande decisão é entre Montenegro e Austrália. Vitória ou empate classificam Montenegro. Caso a Austrália ganhe, passa em terceiro.
No Grupo B, a Croácia só precisa ganhar da China para chegar em primeiro. A China está fora. As outras posições estáo confusas. Os USA, com 6 pontos ganhos, precisam ganhar ou empatar da Alemanha para garantir o segundo lugar, mas, se perderem de 2 gols, podem ainda ficar de fora. A Sérvia, com 4 pontos, se ganhar da Itália garante a classificação. A Alemanha, também com 4 pontos, mas que perdeu de 8 x 5 para a Sérvia, precisa de ganhar dos USA por 2 gols ou ganhar de um gol ou empatar se a Sérvia perder da Itália, o que e´ pouco provável. A Itália, com apenas 2 pontos, está no desespero. Precisa que os USA ganhem da Alemanha e tem de ganhar da Sérvia de 2 gols. Se este jogo entre Sérvia e Itália fosse depois de Alemanha e USA, haveria o risco de alguma maracutaia com os sérvios. Há precedentes, não provados, mas conhecidos, mas, como é o primeiro jogo do dia, os italianos vão ter de buscar em sua tradição forças para conseguir um resultado muito improvável. Até anteontem, eu diria que o mais provável seria vermos as quartas de finais com Espanha x Sérvia e USA x Montenegro ou Austrália, mas, depois de um dia de tantas surpresas, está difícil fazer previsões.
E agora vou dormir, porque reli o que escrevi acima e acho que amanhã cedo vamos ter visita à igreja de novo.
Abração

3 comentários:

Anônimo disse...

Errei no final, A Sérvia tem 6 e não 4 pontos ganhos. Assim, a Itália já está fora das quartas e só a Alemanha ainda tem chance de alcançar USA e Sérvia. Foi mal.
Perrone

Anônimo disse...

ai galera.. nesse site tem a classificaçao..

http://results.beijing2008.cn/WRM/ENG/INF/WP/C76/WPM400000.shtml#WPM400A11

to aqui nos EUA, as olimpiadas estao sendo transmitidas com atraso na TV.. muito estranho... ontem conseguimos ver o jogo da espanha no site nbcolympics.com ,
nao sei se ai no brasil funciona pq o TV TERRA nao funciona aqui...


valeu galera

Joao Felipe

Anônimo disse...

o terra tv ta funcionando muito bem aqui. tenho assitido a maioria dos jogos que nao passam na tv por ele.. é uma boa dica.
sofia