quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Olimpíada 3º dia - comentário Ricardo Perrone

Correção ao comentário do 2o dia: a coluna com críticas ao time italiano citada no waterpolonline é do Bruce Wigo, dirigente, e não do Wolf, seu filho. Quer dizer, os italianos devem estar xingando a "nonna" (avó) do Wolf e não a "mamma". Se bem que, depois da derrota para os USA, os italianos vão ter de engolir essa. Pelo menos até o Mundial do ano que vem, em Roma.
Uma coisa que me surpreendeu muito na China foi a quantidade de prédios modernos. A minha imagem de país comunista era da Bulgária em 79, na Universíada, só com aqueles conjuntos habitacionais horrorosos e tudo cinzento. Aqui, de cinzento só o céu poluído, porque as avenidas são largas, quilométricas e super arborizadas, enquanto as construções são todas em estilo moderno, várias muito bonitas, embora sem um estilo definido. Meio Miami, meio Barra da Tijuca. Fico esperando dar de cara com a Estátua da Liberdade a qualquer hora. Provavelmente algemada e amordaçada, porque dá para sentir que só mudou a embalagem e nos monumentos tem sempre umas fotos enormes dos camaradas chefes, para ninguém esquecer que ainda é um governo totalitário. Mas é uma cidade muito bonita para quem gosta desse tipo de vida urbana. Para meu gosto, tem um defeito básico. Como dizia o Vinícius de Morais sobre São Paulo: a gente anda, anda e nunca chega na praia (calma, estou brincando, paulistada).
Estamos sendo, mais que bem tratados, mimados por nossos amigos aqui da Globo, Joana e Pedro. Temos saído muito com seu filho Antônio, de 1 ano, a vovó Flávia e a secretária Michelle. Os chineses ficam alucinados com o menino e no aeroporto chegou a criar tumulto, com mais de dez chineses querendo tirar fotos dele e pegá-lo no colo. Como o moleque é uma simpatia e ri para todo mundo, a gente acaba tendo que sair meio correndo antes que venha a polícia achando que é ato de protesto.
Pela televisão, continuo sofrendo. Estava doido para ver as lutas do Tiago Camilo e anteontem não passou nada de judô. Do Kaio Márcio só vi uns flashes nas coberturas sobre o Phelps, que é o único estrangeiro que aparece toda hora aqui. Além do Bush, que já virou arroz de festa. Está toda hora na TV em algum evento. Do pólo feminino, nem sombra. E tome de tênis de mesa, tiro, badminton, hipismo, argh!
O Príncipe Felipe (não o meu, o da Espanha) compareceu aos dois jogos contra Canadá e Austrália e no último foi à piscina convidar o time para jantar com ele e a Princesa Letícia na Casa da Espanha. Se a mãe da Ema não tivesse falecido em 99, teria morrido agora de emoção. Afinal de contas, para quem saiu da Espanha depois de ter passado fome na Guerra Civil e veio para o Brasil sem nada, ver os netos irem jantar com os Príncipes de sua terra natal ia ser demais.
Isso tudo acima escrevi ontem, dia 13. Hoje, dia 14, estou aqui no computador às 6:00h da manhã, depois de acordar às 4:00h e ficar rolando na cama até agora. Tentando fazer o tempo passar até a hora do jogo. É aquela ansiedade antes de um jogo em que você sabe que o adversário é mais forte e deve ganhar, mas que se o seu time jogar bem e der um pouco de sorte é possível ganhar. Mas também é possível dar azar e tomar uma goleada. Vamos ver. De qualquer forma, com qualquer resultado nada vai ficar definido no grupo.
No outro grupo, a partida entre Sérvia e USA deve mostrar o real potencial dos americanos. Se eles conseguiram montar um time capaz de jogar de igual para igual com os melhores ou se continuam na "segunda divisão". Já a Itália, só um milagre salva. Para passar para as quartas de final, tem de ganhar os três jogos restantes (incluindo a Sérvia) e ainda torcer para os USA tirarem pontos da Sérvia ou depender de saldo de gols. Está quase impossível, o que é péssimo para o waterpolo, por um lado, porque vai diminuir o volume de dinheiro de patrocínio na principal Liga nacional, e bom por outro, porque a ascensão dos americanos sempre traz mais interesse da mídia mundial. Se a Sérvia ganhar hoje, no grupo B ficam praticamente definidos os três primeiros colocados (Croácia, Sérvia e USA), a menos do milagre italiano ou que os alemães voltem a surpreender os americanos.
Agora sim, fui à piscina e posso comentar o que vi. O primeiro jogo, Croácia x Alemanha, foi tranquilo para a Croácia. Os alemães jogaram mais organizados e se apresentaram bem, mas o time da Croácia está em outra categoria. Quando o centro grande, Schwertvits, estava na água, até que dava jogo, pois ele conseguia expulsões ou fazia com que a Croácia marcasse por zona e desse para os alemães chutarem de fora. Quando ele não estava, os dois enormes marcadores de centro da Croácia brincavam com o centro reserva e a Alemanha não conseguia atacar. Me pareceu que a Croácia jogou meio burocraticamente e só está passando o tempo até a hora das semi-finais.
O segundo jogo foi mais complicado. A derrota feia da Sérvia para a Croácia na rodada anterior deve ter piorado o ambiente que já não estava bom. A Sérvia entrou com o goleiro reserva, Soro, que é bom mas não se compara ao titular Sefik. Além disso, o canhoto Filipovic e o Gocic, que chegaram como titulares, foram barrados e jogaram apenas 5 e 7 minutos respectivamente. A Sérvia está irreconhecível. Seus centros não estão conseguindo jogar e o Sapic, mais uma vez, está sendo egoísta e desperdiçando muitos ataques. Hoje ele chutou 6 bolas e só fez um gol. sendo que, em pelo menos 3 delas, o chute foi no início do homem a mais e, como estava bem no meu alinhamento, de uma posição onde seria impossível a bola passar. E o pior é que o técnico não o tira d´água nem um segundo. Jogou os 32 minutos. Os caras que estão no banco devem ficar desesperados. Só ganharam a partida porque os USA foram absolutamente incompetentes para marcar gols e o placar de 4 x 2 já mostra que o ataque da Sérvia também não funcionou.
Do lado americano, os destaques foram o goleiro, que pegou muitas bolas, os centros, principalmente o Jeff Powers, que conseguiu jogar bem até com o Vujasinovic marcando, e o canhoto Peter Varellas, que meteu dois gols muito bonitos. O Tony perdeu um pênalti logo no primeiro quarto e acho que se desconcentrou. Embora muito marcado, chutou mais 7 vezes sem marcar nenhum gol! Dessas 7, pelo menos umas 4 de uma distância e posição nas quais ele costuma ter um aproveitamento altíssimo.
Enfim o último jogo da manhã, Hungria e Espanha. Piscina quase lotada, com uma multidão de húngaros torcendo e gritando feito loucos. A Espanha começou avassaladora. O Molina meteu dois golaços seguidos, da posição 2 e de falta dos 5m, depois ainda houve uma chance clara de aumentar de homem a mais, mas o goleiro agarrou o chute do Kiko. Preciso perguntar a ele o que houve, porque dali ele não costuma perder. A Hungria diminuiu para 2 x 1, em um canhonaço do canhoto Kiss, mas logo em seguida o Ivan Pérez fez um gol de centro e houve algumas oportunidades de aumentar para 4 x1. O ruim é que hoje o Xavi Garcia, que desde o Europeu, passando pelo treino contra a Sérvia e nos dois primeiros jogos da Olimpíada, estava acertando todos os chutes na gaveta, não estava em seu dia. Não acertou nada. Como ele é meio doido, talvez tenha sido melhor ter a demência hoje e deixar para acertar nas finais. A defesa esteve mal na marcação de centro, como sempre, mas maravilhosa na defesa com homem a menos. Basta dizer que, das 12 vezes que a Hungria esteve em vantagem, em cinco não conseguiu nem chutar. Três dos gols foram feitos com 5s de expulsão, isto é, antes que a defesa tivesse se posicionado. No homem a mais armado, só fizeram 2 de 9 chances. Alguém que olhe o tamanho e o chute dos húngaros diria que isso é impossível com um time cheio de baixinhos como é a Espanha.
O time da Espanha me pareceu ainda abaixo de sua forma física habitual. O Kiko, por exemplo, nos dois últimos mundiais, ganhou mais de 80% dos sprints iniciais e agora acho que ainda não ganhou nenhum. Contra a Hungria, ano passado, foram 5 sprints ganhos dentre os 4 do jogo e os 2 da prorrogação. Hoje, perdeu os 3 que disputou. O Felipe e o Molina visivelmente estavam muito cansados no final do jogo de hoje. Tomara que isso esteja previsto e que eles atinjam o auge das quartas para frente.
Na Hungria, os destaques foram o Denes Varga, os centros e o Benedek que, além de fazer dois lindos gols, ainda foi o principal responsável pelo cansaço do Felipe e do Kiko, que marcam os canhotos. No ano passado, no Mundial, ele vinha de uma operação e não estava aguentando o ritmo, mas agora voltou a ser uma das principais peças do time húngaro.
Não fiquei para ver os jogos da tarde porque não tinha ingressos e achei que não haveria jogo difícil. Pelos placares, acho que acertei. Montenegro ganhou da Grécia por 10 x 6, depois de abrir 10 x 4, no fim do 3o quarto. O Canadá deve ter jogado muito bem contra os australianos, pois ganhou o 1o quarto de 3 x 2, chegou ao meio da partida empatado em 4 x 4, para perder no final por 8 x 5. Sem ter visto o jogo, mas conhecendo os australianos, acho que devem ter entrado pensando que ganhariam fácil e ficaram nervosos quando o jogo engrossou. Já vi muito esse filme. O jogo entre China e Itália passou na TV. A Itália passeou e venceu fácil. Mesmo com todos os problemas que mencionei no e-mail anterior, a Itália é um time de gente que sabe tudo de pólo e qualquer dos muitos erros infantis dos chineses era punido com um gol na volta. A China não conseguiu nunca jogar e a partida terminou 19 x 7.
Agora, no grupo A, a Hungria deve se classificar direto para as semi-finais, pois está com um ótimo saldo de gols e não vai perder para Canadá ou Austrália. O segundo e terceiro lugares devem ser decididos sábado entre Montenegro e Espanha. Montenegro ainda terá de fazer força contra a Austrália, mas não acredito que possa ser surpreendido e a Espanha, se perder para Montenegro, terá um jogo muito perigoso contra a Grécia, que tem poucas chances de se classificar para as quartas por ter perdido por 4 gols para a Austrália, mas adoraria sair da disputa de medalhas de cabeça alta, com uma vitória sobre os espanhóis. É jogo para não afundar nunca a cabeça, para não tomar uma joelhada ou cotovelada perdida.
No grupo B, a Croácia praticamente garantiu o primeiro lugar. Não vejo como os USA possam ganhar daquele timaço. A Sérvia tem um jogo fácil contra a China no sábado e, se ganhar da Itália, como tem feito desde a derrota no Mundial de 2003, se classificará em segundo. Os americanos são os favoritos para ganhar a última vaga para as quartas de final, mas ainda têm de jogar com os alemães, que sempre têm lhes causado problemas. A Itália está meio no desespero, como expliquei mais acima e a Alemanha ainda não jogou os seus jogos decisivos, mas com o que mostrou até agora não acredito que seus torcedores estejam muito animados.
O comentário final é que não fiquei tão aborrecido com a derrota de hoje como achei que ficaria. Primeiro, porque a Espanha jogou três quartos e meio muito bons, só tendo perdido nos últimos minutos, o que mostra que é possível ganhar. Em segundo, porque a confirmação de que a Sérvia está bem mais fraca que nos campeonatos passados e que os USA não melhoraram tanto assim aumentou muito a esperança de chegar às semi-finais e disputar uma medalha.
Abração,
Perrone

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei o máximo - "O Príncipe Felipe ( não o meu, o da Espanha)..."
Outra coisa muito legal é ser convidado para jantar com a realeza

Cristina Guimarães