Os planos iniciais eram só fazer turismo até o começo da Olimpíada, porque minha intenção era, como sempre, sentar na frente da televisão e ver tudo que passar, principalmente atletismo, vôlei, basquete, judô, lutas e, claro, pólo aquático. Só que os chineses têm uma visão diferente e só passam esportes em que estão disputando medalha. Quer dizer, além de ser tudo comentado em chinês, só passa badminton, levantamento de peso, arco e flecha, tiro etc. Nem a partida de pólo aquático contra os USA eles passaram, acho que porque sabiam que iam perder. De interessante, só tenho visto basquete, uma ou outra partida de vôlei e as lutas finais do judô. Com isso, resolvemos passear mais um pouco e fomos hoje à Cidade Proibida. É ainda mais bonita e impressionante do que parece nos filmes, mas o problema é que tudo aqui é gigantesco e cheio de gente. Tinham me dito que chinês não tem férias e realmente sábado e domingo está tudo aberto: bancos, lojas, etc. Só não entendo como pode ter tanta gente passeando em uma segunda-feira. Tem uma hora que você fica tonto de tanto ser empurrado e de ouví-los tagarelando. Como falam esses meus parentes!
Kiko ligou da Vila e falou: "Chegou a ambrosia". É claro que não é aquela ambrosia do filme "Meu nome não é Johnny". É que essa confusão de arranjar ingressos para parentes já deu tanta encrenca, que o técnico da Espanha disse que não quer mais ouvir ninguém falar nisso. Então a conversa em código passou a ser a solução para combinar a entrega do contrabando. Era fácil. Só ir até a entrada oeste da Vila e pegar o pacote. Fácil de falar. Como não encontramos "Vila Olímpica" escrito em chinês em nenhum dos mapas que temos, tivemos de pedir ajuda a uma intérprete da Globo. Paramos um taxi, pedimos para ele esperar, ligamos para a intérprete e demos o celular para o motorista de taxi ouvir as instruções. Aí ele disse ok e fomos. Só que ao chegar perto, ele não sabia direito onde era e na cara de pau parou num lugar qualquer e disse para a gente saltar, como se fosse ali. Andamos um pouco até confirmar que estava errado e pedimos ajuda a uma menina com crachá da organização. Claro que ela não falava nada de inglês e pusemos a intérprete na linha de novo. Ela ouviu, falou ok, parou um taxi e deu as instruções. O novo motorista ouviu, disse ok para nós e partiu voado para uma série de viadutos e uma linha expressa, tipo linha vermelha. Com 5 minutos rodando já tínhamos chegado à conclusão que algo estava errado mas não dava para botar a intérprete para falar porque ele não iria atender o telefone dirigindo. Quando finalmente ele saiu da linha expressa e parou num lugar com cara de perdido, chamamos a intérprete de novo. Resumindo: foi como se na primeira vez tivéssemos parado na Lagoa quando queríamos ir para o Jardim Botânico e em seguida pegamos o Rebouças e fomos parar na Praça da Bandeira. Voltamos tudo e ainda tivemos de andar um bocado, porque o cara largou a gente no portão norte em vez do oeste. O consolo é que o taxi aqui é muito barato. Bom, agora temos entradas para todos os jogos da Espanha. Para os demais jogos, faltam ingressos para duas sessões das preliminares, mas tudo bem.
A rodada de hoje pela manhã começou com Montenegro x Canadá. Massacre total. O azar do Canadá é que como os grupos estão muito equilibrados, todo mundo está jogando pensando no saldo de gols e não dá refresco. Por mais que tenha melhorado, ainda falta muito feijão com arroz para o Canadá poder jogar de igual para igual com as equipes de 1o nível. O principal problema é o que mencionei na primeira anãlise. Os centros canadenses são medianos e os marcadores de centro de Montenegro, Jokic e Ivovic, são excepcionais. Com isso o Canadá não conseguia atacar. A bola não entrava no centro e o perímetro ficava marcado sob pressão. Nos poucos homens a mais, a defesa de Montenegro não deixava um buraco para o chute. Os parciais de 3 x 0, 4 x 0, 4 x 0 e 1 x 0 já resumem o jogo. Do time de Montenegro não dá para comentar muito, pela facilidade com que jogaram. Só que o seu centro titular, Zlokovic, que normalmente está muito nadado, me pareceu que está cansando rápido, além de que três ou quatro reservas são bem inferiores aos titulares. Como última observação, para quem puder ver os gols do jogo, reparem na beleza de movimento de braço do veterano (38 anos) Uskokovic, canhoto. Ele faz todo o movimento de braço em câmera lenta, sem que o goleiro possa imaginar que ele vai chutar, e só nos últimos dez graus da rotação de braço ele acelera e finaliza de munheca. Não sai muito forte, mas quando o goleiro levanta os braços, a bola já bateu na rede.
O jogo da Espanha deu a impressão no início que seria mole, 4 x 0 no 1o quarto. Mas, a partir do 2o, a Austrália reagiu e ficou sempre um ou dois gols atrás, sem que a Espanha conseguisse abrir e respirar. No final, encostaram em um gol e poderiam ter empatado. Problema de sempre, a marcação do centro. Se bem que desta vez acho que o mérito foi da equipe da Austrália, que está organizada e parou de dar chutes e pingadas doidas, como fazia até o ano passado. O veterano Gavin Woods, que jogou de 2001 a 2003 no Barcelona, fez um partidaço e, além de expulsar os marcadores "normais" diversas vezes, ainda cavou duas expulsões do Molina e fez um gol de centro no Felipe. Esse gol, na teoria, não foi culpa do Felipe, pois ele tinha empurrado o Gavin para os 4-5m e quando a bola entrou ele levantou os braços, confiando que alguém descesse para roubar a bola, mas isso não tira o mérito do gol, pois foi uma virada rapidíssima e a bola entrou na gaveta. O Pietro Figlioli, que havia feito 4 gols na véspera contra a Grécia, foi marcado quase o tempo todo pelo Molina e não conseguiu nada. Só um gol de contra-ataque. Na Espanha, quem apareceu muito bem foi, de novo, o Xavi Garcia que meteu 3 foguetes de fora. O Molina também fez um golaço de longe que matou a coruja. Kiko e Felipe jogaram bem, com um gol importante cada um. O Kiko ainda saiu um pouco para descansar, mas o Felipe jogou 31:13 dos 32 minutos e saiu mortinho, pois a Austrália não parou de nadar nunca.
Em seguida, o último jogo da manhã: Itália x USA. Antes de sair para a piscina, eu tinha lido no site italiano uma tradução de uma coluna do Wolf Wigo, estrela americana da década passada, dizendo que a Itália, depois de muitos anos sendo a "pátria" do pólo aquático, estava agora em franca decadência e era, tirando a China, a pior equipe do Grupo B. Imaginem o que os arrogantes italianos devem estar falando da mama do Wolf a essas alturas. Achei uma péssima contribuição dele para seu país, pois uma equipe de veteranos pode perfeitamente achar aquela adrenalina extra num comentário desses, mas não foi suficiente. Os americanos dominaram o jogo desde o início e só deixaram a Itália encostar no final por algumas bobeiras. O time americano está muito nadado e com quase todos chutando muito forte. A Itália está sem bons marcadores de centro e o único que ainda se salva nessa posição é o Bencivenga, que também tem de fazer centro e não aguenta as duas funções. Outro problema grave é que o técnico resolveu levar dois veteranos, Buonocore e Di Constanzo, que ficaram muito tempo machucados e não estão no auge da forma. O primeiro ainda vai, porque é marcador de centro e não tem ninguém bom nessa posição, mas o segundo não dá para entender. Mesmo em forma já não me agrada muito esse jogador e tendo outros dois canhotos ótimos, como o Sottani e o jovem Gallo (22 anos), levá-lo e deixar de fora outras jovens promessas como o Georgetti, do Pro Recco, e o Rizzo, do Savona, é uma loucura. Me lembrou o Jané, ex-técnico da Espanha, levando três canhotos e deixando o Kiko de fora na Olimpíada passada. O time americano jogou todo muito bem, sem destaques individuais. O Tony esteve muito marcado, mas na única vez que o deixaram entrar balançando ele meteu um belo gol de ponta. Do jeito que são, a esta altura, os gringos devem estar achando que vão medalhar, como previu o Wolf na sua coluna, mas acho que ainda não têm time e jogo para encarar os grandes.
Não consegui ingressos para a parte da tarde. A Hungria atropelou a Grécia (17 x 6, com 7 x 2 no 1o quarto) e a Croácia também ganhou bem da Sérvia, depois de virar os 1 x 3 do primeiro quarto para 9 x 4 no final do terceiro. O último jogo, Alemanha 6 x 5 China, foi transmitido. Excelente para demonstrar em vídeo o que não se deve fazer num jogo. Quando uma equipe desorganizada joga contra uma organizada, a própria colocação correta da defesa e do ataque do time que sabe jogar auxiliam o desorganizado a se colocar. Quando as duas são desorganizadas, é o caos. Era falta de ataque de um lado, chute fora de hora do outro, passes errados no perímetro, pingadas forçadas, um horror. O time da China tem um bom goleiro (que deveria ganhar hora-extra de tanto que trabalhou), centros razoáveis e vários jogadores com chute bem forte, mesmo que fora de hora. Na Alemanha também jogou bem o goleiro, Tchigir, e o ursão que faz o centro, Scwertwitis, enquanto teve forças, porque com o vai e vem dos erros ele foi a pique no meio do jogo. Nem os jogadores que gosto, Politze e Nossek, se salvaram. Vamos ver se a Alemanha ainda consegue alguma coisa, pois eles costumam ganhar dos americanos e, às vezes, da Itália, mas acho que a coisa não está boa para o lado deles.
Até quinta, com Espanha x Hungria. Alguém sabe como se diz "maracujina" em chinês?
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