sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Análise de Ricardo Perrone (II)

Confirmado o que sempre achei. A pior época para visitar qualquer cidade é durante as Olimpíadas. Engarrafamentos, locais turísticos lotados, preços mais caros do que o normal etc. Mas o grande problema aqui é a comunicação. Além de pouquíssimas pessoas falarem inglês, as que falam em geral sabem apenas algumas palavras chave e se você tentar fazer uma frase completa eles se perdem completamente. Tem que ser na base do inglês de índio e muita mímica. E ainda tem a dificuldade com o "R" que eles não conseguem pronunciar e falam "L". No restaurante, ontem, eu pedi a conta ("bill") e o garçom entendeu cerveja ("beer"). Lembrei logo de alguns amigos que iam ter dificuldade para sair de um restaurante desses...
Continuando a análise de ontem, coloquei a Sérvia como quarta favorita meio na dúvida. Depois de dominar o water polo mundial nos anos de 2005 e 2006, quando ganhou todas as competições, a Sérvia foi atropelada pela Croácia nas semi-finais do Mundial de 2007 e depois perdeu a medalha de bronze para a Espanha, nos pênaltis. Este ano, no Europeu, ganhou da Hungria, na prorrogação, nas semi-finais, e perdeu na final para Montenegro, também na prorrogação, em uma partida anômala, quando um juiz italiano maluco apitou totalmente diferente do que apitam todos os outros. Com isso, os sérvios perderam a concentração (fato raríssimo) e o jogo.
Com este retrospecto, o correto talvez fosse indicar a Sérvia como primeira ou segunda favorita, mas, pelo que ouvi falar, acho que dois problemas podem ter causado essa perda de concentração inusitada e ter também reflexos em uma competição que com toda certeza vai ser decidida nos detalhes. O primeiro problema é uma disputa interna, que já vem de anos, mas sempre foi encoberta pelas vitórias, entre a estrela do time, Sapic, e alguns jogadores. O segundo é que o recente acidente de moto que inutilizou Danilo Ikodinovic para o esporte e ainda ameaça sua vida abalou muito os jogadores mais velhos, amigos de longos anos.
Destacar craques da Sérvia é tão difícil quanto os da Hungria (o Barriga reclamou, com razão, que eu esqueci dos irmãos Varga) ou Croácia. De qualquer forma, dêem uma olhada no goleirão Sefik, nos jogadores de perímetro e marcadores de centro número 11 Vujasinovic e 4 Udovicic e no canhoto 8 Filipovic. Além, é claro, do 10 Sapic, que foi o artilheiro de quase todas as competições internacionais dos últimos 10 ou 12 anos. Um "fominha" que costuma fazer muitos gols, mas às vezes amarela nas finais.
A inclusão da Espanha no grupo dos que têm chance de medalha pode ser um pouco de nepotismo de minha parte. Afinal, é quase impossível ser imparcial em um caso desses. Na verdade, para a Espanha ter sua chance é preciso primeiro que todos os jogadores joguem o máximo que sabem ou ainda melhor, como fizeram nas semi-finais e final do Mundial do ano passado. O grande problema da Espanha é que seus melhores atacantes, o número 5 Molina (MVP do Mundial) e o 10 Felipe, são também os melhores defensores de centro. O que cria o "cobertor curto", pois é impossível jogar o tempo todo nas duas posições. Não tenho dúvida que os dois vão jogar muito bem, mas os espanhóis vão depender muito de uma ótima atuação dos outros dois marcadores de centro, o 6 Minguell e o 7 Gallego, para que Molina e Felipe tenham liberdade e gás para atacar. Outros jogadores a serem observados são o canhoto 12 Xavi Garcia e o centro 9 Ivan Pérez. É muito bonito de ver, também, como a defesa da Espanha, com jogadores pequenos e de pouca envergadura, como o 4 Kiko, o 3 David Martín e o próprio Felipe, consegue compensar essa desvantagem com uma velocidade de deslocamento assustadora.
No grupo que, a meu ver, não tem chance de medalha, mas pode surpreender em um jogo qualquer dos cinco times antes analisados, se incluem Itália, Grécia, Estados Unidos, Alemanha e Austrália.
A Itália tem tradição, excelentes técnicos e vários jogadores que já foram muito bons mas que agora parecem estar um pouco ultrapassados. A última grande atuação foi no Mundial de 2003, quando ficaram em segundo para a Hungria, na prorrogação. Depois disso, não passaram mais de quintos e sextos lugares, ou pior. A única chance da Itália conseguir fazer frente a uma das favoritas é seu goleiro Tempesti estar num dia de lua, o que às vezes acontece. Vale a pena torcer pelo 12 Sottani, nosso "quase-brasileiro" e observar os centros 10 Calcaterra e 13 Bencivenga, além do cérebro do time, o baixinho Angelini.
A Grécia vem melhorando há muito tempo, mas, sem nunca ter conseguido medalhar em europeus, mundiais e olimpíadas, parece que agora está vendo sua geração de alto nível ir se acabando sem que apareçam jovens à altura. São destaques os irmãos Afroudakis, 7 Christos e 9 Giorgio, e o atacante Ntoskas, dono de um chute fortíssimo, mas sem o cracaço Chatzitorodou, autor de vários dos gols mais bonitos que já vi, não acredito que consigam fazer frente às melhores equipes.
Amanhã continuo.
Abração

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